Ontem chegámos às 40 semanas e nada de bebé. A certa altura virei-me para a A. e disse-lhe “quero o meu bebé! Dá-me o meu bebé já!” e depois para a barriga: “Sai daí ó Júlia! ANDA CÁ! JÁ AQUI! AO PAI! ONTEM FIZ O JÚLIA CHALLENGE! SUFFER SCORE DE 190! ERA SUPOSTO NASCERES HOJE!” Como resposta, parou de se mexer. Escondeu-se. A mãe também me disse que não podia fazer nada. Muito bem, temos um bebé procrastinador.
A propósito de palavras que soam mal, que raio de palavra é Procrastinação? Ninguém diz isto, mas quase toda gente tem motivos para utilizar esta palavra, especialmente os portugueses. Eu nem sei escrever isto, tenho sempre de ir ver onde meter aqueles dois r’s e o mais engraçado é que nem o spell check do wordpress me reconhece ‘procrastinar’. Se calhar reconhece, mas acha uma palavra tão feia que a assinala. Portanto, procrastinar é um conceito que está varrido das nossas conversas e desabafos pelo simples facto de ser um trava línguas e não ter um equivalente informal. É por isso que somos um país atrasado, com baixa produtividade, há um elefante na sala mas ninguém o nomeia porque ninguém sabe onde colocar os dois r’s. Ninguém diz “onicofagia” mas podemos dizer “roer as unhas”. A canção do António Variações teve de se chamar ‘é pra amanhã’ porque ‘Procrastinar” é infinitamente menos poético. Vamos testar, adaptando a canção à Júlia que não sai da barriga:
Procrastinar
Bem podias nascer hoje
Porque amanha sei que voltas a procrastinar
E tu bem sabes como o tempo foge
Mas nada fazes para o agarrar
Foi mais um dia e tu procrastinaste
Um dia a mais tu pensas que não faz mal
Vem outro dia e tudo se procrastina
E vais adiando a viagem pro hospital
Então e não seremos um país de procrastinadores ? Já está no sangue. Let Little J take her time 🙂