Gostei muito do “Nascidos para Correr” de Christopher McDougall e consigo perceber porque, para além de ser um best seller mundial há vários anos, teve um impacto cultural fortíssimo, sendo em parte culpado pela moda da corrida ter explodido. A minha namorada, que não morre de amores pela corrida, pegou nele por acaso, leu algumas páginas e não o largou mais. O livro, baseado numa história real, traça o perfil dos índios mexicanos Tarahumara, um povo semi-neolitico que vive escondido e isolado na mortífera e misteriosa Sierra Madre e que faz corridas de centenas de quilómetros, aparentando ter poderes sobrenaturais. Todos correm, crianças, mulheres, velhos, homens… Passam a vida a correr. Os Tarahumara são tímidos, calmos e felizes. Na véspera das corridas apanham bebedeiras descomunais com uma cerveja caseira e no espaço de poucas horas cometem todas as loucuras possíveis. No outro dia acordam e são eles outra vez, tímidos e educados e culpam a cerveja pelos actos da noite passada que são assim esquecidos e relativizados. São o povo mais pacífico do mundo. Não têm dinheiro, trocam cerveja e ajudas mútuas, favores. São tão tímidos que quando se quer visitar um Tarahumara, não se bate à porta da cabana, devemos deixar-nos ficar sentados longe dela, mas à vista, assim como quem não quer a coisa, a olhar para o lado e se eles tiverem vontade de nos receber, então chamam-nos para dentro. Caçam animais pelo simples cansaço, podem perseguir um veado até ele desmaiar de exaustão. Pelo meio, aparecem alguns dos melhores ultra-maratonistas como Scott Jurek e as respectivas epopeias. Aqui Scott com o Arnulfo, o melhor corredor Tarahumara.
Também gostei, mas acho que a fluidez na leitura deixa um pouco a desejar, o encadeamento entre os capítulos não existe. Dava por mim sempre à espera que o autor voltasse a falar nos Tarahumara, acho que ele enrolou um bocado noutros assuntos que não tinham assim tanto interesse. O que realmente me fascinou foram as descrições das corridas! O meu nutricionista aconselhou-me também outro livro que ele diz que é muito bom, mas ainda não li, por isso não posso recomendar, mas o título é fabuloso: Correr ou Morrer.
Concordo com a questão da fluidez e de facto no fim parece um anúncio estranho a correr descalço ou com aquelas vibra fingers ou lá o que é. As descrições das corridas são fabulosas! Vou espreitar esse Correr Ou Morrer 🙂