Marinho e Pinto

Por favor, elucidem-me. O estilo truculento, confere. Mas fora isso, apesar de investigar fazer ‘searches’ no google com termos com “Marinho Pinto declarações polémicas”  e de esgravatar a minha memória que só fixou aquele episódio com a Manuela Moura Guedes (em que ele esteve bem), francamente não encontro nada de especial. A homofobia que lhe é atribuída é por ter dito “um homem a fazer de mãe ou uma mulher a fazer de pai” não são uma família natural”? Eu, presumo que ao contrário do Marinho e Pinto, sou a favor do casamento e da adopção por parte de casais gay, mas isso não significa que me choque que alguém não considere uma família natural no que respeita aos sexos dos pais. E depois? Também não acho que ser vegan seja natural. Nem sequer acho que ser católico é “natural”. Natural para mim é venerar a Lua e o Sol e os deuses esquisitos que um xamã inventa sob influência de sumo de sapos psicadélicos antes de orgias gigantescas que envolvem toda a aldeia. Nem acho a Internet natural eu. Ou foi por ter dito “há pessoas que ocupam cargos de relevo no Estado português que cometem crimes impunemente” ou “há centenas ou milhares de pessoas presas [em Portugal] por terem sido mal defendidas”  ou “uma senhora que furtou um pó de arroz num supermercado foi detida e julgada. Furtar ou desviar centenas de milhões de euros de um banco ainda se vai ver se é crime” ou “pelos vistos, nenhum banco pode ir à falência” etc. etc. ? Admito que existam por aí as tais frases e as ideias chocantes e que eu desconheço (espero que não sejam só estas) mas desconfio que seja tudo uma questão de estilo. Em Portugal ocorre um fenómeno extraordinário: basta alguém romper, ainda que ligeiramente, com a cultura polida no discurso, para imediatamente levar o selo de populista, demagogo, protofascista… Não é preciso ser-se um Marinho e Pinto, já o escrevi a propósito de Medina Carreira que leva com isto desde que me lembro, uma espécie de desconsideração intelectual permanente por parecer um resmungão demagogo. Recordo de há vários anos, bem antes da crise, ele ter dito ao Mário Crespo que qualquer dia vinham os ‘senhores estrangeiros do FMI” tomar conta disto devido ao descalabro das contas públicas. Risos, o pessimista, o populista, o demagogo… Muito bem, cá estamos. Alguns, nas redes sociais, dizem que Marinho e Pinto é o “Beppe Grillo” português. A comparação não é descabida, embora a escala seja diferente: Beppe é um líder, situa-se à esquerda, faz discursos poderosos e é em certa medida um revolucionário. Parece assustador porque quando traçamos paralelos como passado, encontramos óbvias referências como Mussolini, que também não se considerava como parte de “um partido” e que tinha antes “um movimento”, que era “socialista” e protector dos oprimidos e pobres. Mas também existe porque a escala da decadência do sistema político italiano é mais extrema que a nossa. Em comum, exploram ambos o ressentimento. E penso que é uma coisa válida de se explorar. O ressentimento existe. E não toma apenas a forma que o PCP lhe dá ou que a outra extrema esquerda lhe quer dar. Vamos negar a sua expressão democrática e ao mesmo tempo queixar-nos que os portugueses ficam em casa ou votam sempre “nos mesmos”? Ou só dizemos “votam sempre nos mesmos” quando somos trucidados nas eleições?
De resto, tive pena do Livre não eleger um deputado. E agora, após o anúncio de que António Costa se vai candidatar à liderança do PS, uma música para o António José Seguro:

5 thoughts on “Marinho e Pinto

  1. «Em Portugal ocorre um fenómeno extraordinário: basta alguém romper, ainda que ligeiramente, com a cultura polida no discurso, para imediatamente levar o selo de populista, demagogo, protofascista…»

    Falso. Paulo de Morais rompe fortemente com a cultura polida no discurso e jamais levaria os rótulos de populista, demagogo, protofascista. Medina Carreira idem… E há mais. Quanto a MeP, bastará lê-lo no JN para perceber do que se trata. Sempre é melhor do que ouvi-lo, fica-se com dor de cabeça.

  2. Concordo com o teu post. Já tinha dito que no meio de Le Pens e co. não me consigo indignar com o facto de o Marinho e Pinto ter sido eleito.

  3. A maior incongruência está relacionada com o facto de, apesar de nunca se lhe ter ouvido uma palavra em defesa da causa ambientalista, ser o cabeça de lista de um partido ecologista, o MPT. Salta à vista que é aproveitamento, tanto de uma parte como da outra. E vai este senhor, que nunca mexeu uma palha em defesa de nenhuma causa ambiental, integrar, representando Portugal, o grupo dos Verdes Europeus. Óbvio que espero que o faça bem mas…desconfio…

  4. Não nos podemos indignar por uma facção extremista eleger um deputado. Temos sim que pensar que fomos nós quem permitiu que isso acontecesse.

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