imitações de Paulo Bento e Jorge Jesus

Paulo-Bento

Gosto muito de imitações. Eu estou muito longe de ser um Luís Franco Bastos, mas quem não tem uma ou duas imitações boas? A minha melhor é o Francisco Louçã e a mímica corporal do Cristiano Ronaldo nas entrevistas, aquele toque de cabeça para trás com o encolher de ombros e o olhar para o canto superior direito a fugir do olhar do entrevistador e o sorriso de puto, de boca para o lado, porque teve assomo de orgulho no momento em que o jornalista lhe recordou que marcou mais 4 golos e que desemboca num “não, claro que fico feliz, faço o meu melhor, o importante é equipa, tou aqui é pa’ajudar”

Dito isto, Paulo Bento está cheio de idiossincrasias que tornam muito fáceis as suas caricaturas. A mais óbvia do ponto de vista físico é o olhar esbugalhado como um animal encadeado por faróis e a forma como o lábio superior lhe coloca uma permanente expressão de peixe. Depois é o sotaque espanholado numa dicção meio fanhosa, por ter passado 4 épocas no Oviedo. Sempre achei extraordinário que certos jogadores de futebol portugueses que falaram exclusivamente português até meados dos 20 anos ganhassem um repentino sotaque por umas épocas no país de nuestros hermanos. Outros casos famosos são o de Figo e, em especial Paulo Futre. O espanholamento da fala não se prende só com a entoação meio cantada e sílabas rápidas, mas com detalhes como tratar por “tu” toda gente, incluindo jornalistas de telejornal. Outro aspecto da fala de Paulo Bento, que não sei porquê acho que coincide com o estrabismo de veado encadeado, é o facto de repetir muitas vezes o meio de uma frase: “porque vamos com a certeza de que vamos fazer, vamos fazer, vamos fazer… um bom Mundial” ou “temos de continuar a trabalhar… a trabalhar para a prossecução dos, prossecução dos objectivos”. Mas tudo isto é clássico e temos bons e maus imitadores a captar estes aspectos. Qualquer amador consegue. Ultimamente reparei num detalhe mais subtil: a forma como introduz uma resposta cabal assim tchaaan, precedida de uma interrogativa que ele próprio imaginou. Ainda hoje vi na bola: «Prémio de carreira para jogadores? Nunca o faria.» A maior parte das transcrições de entrevistas não capta isto, mas é engraçado, traduz uma personalidade que tenta estabelecer limites rígidos para a sua conduta e dos outros. No seu dia a dia, estou a imaginá-lo “Dar-lhe uma moeda por ter-me apontado um lugar que eu já tinha visto lá atrás? Não é comigo”.

E a propósito, Jorge Jesus é uma imitação dificílima. Só vi tiros completamente ao lado, mesmo dos grandes Manuel Marques e Luís Franco Bastos. Mas quando digo completamente, é completamente. O problema maior é o “demasiado”. Exageram sempre nos erros de português, na piada do “forno interno” etc. Exagerar já é mau, mas exagerar demais – e isso existe – é ainda pior. Jorge Jesus é muito mais subtil do que parece, apesar de ser uma das imitações mais apetecíveis. Jorge Jesus parece falar mal português mesmo quando fala um português correcto. Por isso as imitações, soam-me a toscas e exageradas, algo que colegas de escritório fariam uns para os outros, e o humor que as sustenta também costuma ser fraco. Dou-vos 5 exemplos, quem tiver paciência.
O pior, por Luís Filipe Borges.
O igualmente pior, César Mourão
O mauzinho, por Eduardo Madeira.
O mau pelo Manuel Marques.
O menos mau, por Luís Franco Bastos, mas abaixo do nível dele noutras.

Jorge Jesus é provavelmente o único treinador de futebol de quem não perco uma só conferência de imprensa ou entrevista. Ele hipnotiza-me. E não é num sentido de gozo, de escárnio. Por exemplo, quase todas as suas respostas à primeira pergunta de qualquer flash interview começam com um som semelhante a “ladrar”. Um “WUAHF” ou um “UAAAF”, uma espécie de “naahh” soprado, como se o entrevistador tivesse falhado completamente a apreciação, seguido de um coçar da face direita com o indicador direito, mais ou menos abaixo do olho direito ou na testa, depois segue-se o sacudir de ombros e muitas vezes o cruzar de braços, e ocasionais lambidelas no lábio inferior e boca aberta num esgar. Não é sempre, mas é quase sempre. Em contextos mais demorados, ele leva o seu tempo a responder. É capaz de olhar para cima, inspirar fundo, reflectir genuinamente e responder um “é verdade. É verdade.” e daí segue-se um raciocínio improvisado. Outro aspecto prende-se com detalhes subtis de organização de ideias. Coisas como “jogámos contra duas grandes equipas” ou “somos livres de sonhar até onde nos deixarem” ou uma frase como “não sofremos zero golos” quando quer dizer exactamente o oposto… Se estivermos atentos, cada entrevista é um concentrado de pequenas pérolas que têm piada porque não são exageradas e porque Jorge Jesus é tudo menos estúpido. As imitações tendem a transformá-lo num pateta e ele não é isso, é apenas alguém cuja expressão oral se assemelha a um comboio a descarrilar com convicção. Também exageram no português, nas calinadas. Um erro de português discreto como “os objectivos do Benfica é sempre ganhar” (exemplo real) é mais Jorge Jesus do que os  inventados “foramos campeões este ano” etc. Há, mesmo assim detalhes que são obrigatórios, o “portantos”, o “chigar”, as “padradas” etc. mas não devem ser carregados, devem fluir naturalmente. Os imitadores parece que isolam estas calinadas nas frases para as colocar bem em evidência para efeito cómico. A pastilha elástica, já agora, nunca o vi a mascar a dita em estúdio, não me parece uma imagem de marca no contexto de uma entrevista.

E deixo com um hino do Luís Franco Bastos a imitar Ronaldo, bem a propósito.

 

 

4 thoughts on “imitações de Paulo Bento e Jorge Jesus

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