Mais ou menos a meio da primeira metade do Book of The New Sun de Gene Wolfe, concluo que é até agora o melhor livro que li desta leva de ficção científica. Não gosto sequer do termo ficção científica aplicado a este livro, visto que – por enquanto – de ficção científica tem apenas o presumível avançado do tempo em que a acção se passa. É inclassificável. Acho que até agora o único traço cronológico que pude perceber acontece quando, após uma descrição fugaz de uma lua verde uns capítulos antes, o protagonista contempla um quadro antigo num museu e no quadro a lua é prateada. O curador, um velho cego com uma barba até ao chão, explica ao jovem protagonista que antes da irrigação da lua que a tornou verde, a lua tinha aquela cor. E isto foi basicamente a única pista de que se trata de futuro. A escrita de Gene Wolfe coloca este livro, a meu ver, numa dimensão à parte e a puxa para fora de um género em que, tendo em conta as expectativas normais, exige apenas uma escrita competente e sóbria. E se falo de género é porque foi pelo género que o descobri, está em várias listas de “10 best sci-fi novels of all times”.
Um pormenor que aqui me aparece muito relevante e que posso transpôr para a ficção científica (e na fantasia em geral) é a credibilização do momento presente (futuro) em que se desenrola a história com recurso a uma antiguidade há muito desaparecida e que deixa vestígios como práticas, lendas e mitos, ruínas, relíquias, palavras, rituais… Mesmo uma civilização do futuro precisa de mistérios como gravuras rupestres, stonehenge, pirâmides egípcias e templos maias. Neste particular, o romance de Gene Wolfe é fantástico e rendilhado como os de Tolkien. Consegue criar lendas e mitos dentro do próprio tempo cronológico. O protagonista pertence a uma guilda milenar de torturadores que vive numa torre numa cidadela, mas no mundo exterior à cidadela, a existência de tal guilda é considerada uma fábula do passado.
Se têm interesse, recomendo mesmo a leitura desta apresentação de Gene Wolfe e da sua obra.
Sonhos do tipo D 
Eu sou um tipo que lê de tudo mas a sci fi tem um cantinho muito especial no meu coração, muito por culpa das duas obras acima referidas (que são do melhor que há em sci fi) mais coisas como as Crónicas Marcianas do Ray Bradbury (e toda a sua obra de sci fi), o 2001 do Arthur (e toda a sua obra), o Estranho numa Terra Estranha (um livro que acho estranhamente apelativo sem conseguir perceber o porquê) e gajos como o Isaac Asimov e o Stanislaw Lem. E depois há toda uma série de autores menos conhecidos que são igualmente engraçados. Das coisas que vi que vais ler, o Ender’s Game talvez seja o mais fraco (mas gostei na mesma, não percebo é porque é que há gente , e não é pouca, que o acha o melhor livro de sci fi de sempre. O hitchikers guide to the galaxy é muito melhor e é uma comédia). Já agora, e em jeito de desafio, não sei se lês banda desenhada mas algumas das coisas mais giras que li, quer de fantasia quer de sci fi, foram escritas em BD. Tipos como o Alan Moore, o Neil Gaiman ou o Grant Morrison têm o mesmo impacto para mim que os autores todos que referi. A obra completa do Sandman seria um sítio giro para começar 😉
Nuno Rechena
Obrigado por todas as referÊncias, assim já sei que neste post há um comentário com uma boa lista de nomes para a próxima vez que encomendar mais uma leva. Conheço o Alan Moore, já lhe li o Watchmen e outro que não me lembro do nome, sobre o Jack estripador, de que gostei ainda mais do que do Watchmen. Do Isaac Asimov tenho já alguns para ler e li um quando era demasiado puto e não fixei nada. Obrigado!
From hell, é o nome do outro, deu origem a um filme pavoroso com o johnny depp. Continuação de boas leituras. Estou só a retribuir o ter conhecido aqui os man man e o conan do dolphin love, entre outras coisas giras 🙂