Month: Setembro 2014
Estou um pouco desiludido com a humanidade em geral.
Prefiro animais, cada vez mais. Sobre ser vegetariano e afins o que tenho a dizer é o seguinte….
Nada.
Sobre o R. Stevie Moore, o que sinto é o seguinte. Acho que ele tinha mesmo o talento do Lennon ou outros enormes mega escritores de canções. Nada me atrai para uma estética low fi ou qualquer merda do género, ele não tem a culpa disso.
a explosão metafísica
Perto do fim do 2º volume do excelente The Book of The New Sun the Gene Wolfe, urge fazer a seguinte reflexão. Está a suceder-lhe um pouco o mesmo que vi no Twin Peaks ou no Lost. Uma história começa relativamente densa, contida, factual, uma trama com suspense, temos referências, conseguimos manejar o universo da história. À medida que avança, começamos a pressentir que os argumentistas (neste caso o escritor) forçam um pouco a barra ao expandir cada vez mais o plano onde se movem as personagens e a esticar o abstracto, o surrealisa, o chamado mind fuck. É como se uma coisa fosse progressivamente mais e mais ambiciosa até abandonar as amarras da narrativa convencional. Eu por acaso gosto.
um filão
meti algumas numa playlist youtube R. Stevie Moore que penso ir fazendo…
há mais, muito mais.
ainda estou em choque :O tanta cavadela e nunca tinha encontrado esta minhoca nem ouvido falar dela.
o blogger urbano e o mar
6:30 da manhã, ainda está escuro. No pátio, observo os vestígios da tempestade nocturna. Já não há trovoada. Visto o casaco de pescador fluorescente, as minhas calças da pesca. Bebo um nescafé para acordar, as mãos entrelaçadas na caneca, pensativo, a contemplar o céu ainda estrelado. Encho o balde com as sardinhas, o gelo, arrumo a minha naifa de pesca e corto-me o polegar. O sangue mistura-se com engodo de pasta de sardinha. É essa a minha receita secreta, penso. O equipamento está preparado de véspera, meto tudo no carro, limpo a condensação dos vidros. Às 6:45 estou na cancela do baleacoop. Está fechada, só abre às 7:00, explica-me o segurança, durante a noite ninguém entra nem sai. Não há problema, trouxe um prático livrinho. Fico a ler no carro o meu livro de ficção científica. Às 7:00 a cancela abre. Depois desta pequena pausa continuo a minha epopeia para o pesqueiro do cabo carvoeiro. Em Peniche ainda paro no único café aberto a esta hora, um café de velhos pescadores como eu. Um deles está sentado numa mesa a ler o COrreio da Manhã. Olha-me de alto abaixo. O meu blusão fluorescente causa impacto, eu sei. Lancho um croissant com fiambre, um café, um b limonada. Mais satisfeito, dirijo-me para o pesqueiro. Passo a Cova de Dominique, o Carreirinho das Furnas e viro para a Furna Que Sopra. Estaciono o carro. O dia desponta num céu, suponho que rosa e lilás, com toques de fuscia e algum dourado, sim, mas eu ignoro essas tonalidades maricas, sou daltónico. O meu céu só tem duas cores, ou é preto ou é de dia. Desço até ao pesqueiro, numa falésia de 10 metros. A próxima hora é passada numa intensa luta corpo a corpo com a linha o anzol. Enrolou-se de tal forma em apenas 10 segundos que julgo estar perante magia negra de Poseidon a proteger o seu rebanho. Pondero cortar a linha e fazer uma montagem toda de novo, tendo em conta que no dia anterior em 3 horas consegui apenas pescar cerca de 36 minutos e o resto do tempo foi passado a desembaraçar linhas, mas resisto estoicamente a este impulso. Finalmente liberto a linha e o anzol. Corto um filete de sardinha, desfaz-se no anzol. Corto outro. Desfaz-se no anzol. Mais tarde vira a descobrir que existe uma coisa que é uma linha elástica para iscar sardinha à volta do anzol, mas naquele momento o meu estilo era mais puro e inocente… Consigo finalmente prender a merda de um bocado de sardinha decente ao anzol. Vejo dezenas de peixes na água. Atiro a linha e preparo-me para o embate… Retiro o isco, sobram apenas as espinhas,. Repito a operação cerca de dez vezes, com um cardume de peixes a debicar o meu anzol e o isco. Como que por magia, conseguem comer-me os bocados de sardinha sem ficarem engasgados no anzol que mais valia ser fluorescente e apitar. Às tantas há tantos peixes no pesqueiro que acho que a novidade se deve ter espalhado pelo Cabo Carvoeiro: “há um gajo que está a atirar sardinha mal iscada num anzol inapropriado! venham depressa, acho que tem um balde cheio de sardinha boa”. A certa altura os peixes quase que formavam um círculo em torno da zona para onde eu estava a atirar o meu anzol. Até que finalmente consegui iscar bem um bocado de sardinha, atirei e o Alfredo (é o nome que dou a este peixe, o meu primeiro), o Aflredo que não prima pela inteligência, mordeu o anzol com toda a força. Aposto que os amigos do Alfredo ficaram a olhar para ele do género “mas tu és parvo ou quê? Foste comer o anzol?” e o Alfredo “ups”, tarde demais. Tive um grande combate com o Alfredo. A cana vibrava e torcia-se, o carreto fazia CRrrrrRRrrRRRrrr Uma gota de suor formou-se na minha testa. Anda cá peixe! As gaivotas pousavam nos penhascos para assistir a este duelo mortal. Olhei em volta. Ninguém, eram mesmo só as gaivotas a assistir ao duelo mortar. Tentei filmar-me com o telemóvel para postar o duelo mortal no facebook enquanto puxava o Alfredo, mas tinha os dedos cheios de óleo de sardinha e não queria que o smartphone me cheirasse a traineira. Entretanto, o Alfredo tentava arrastar-me borda fora para a minha morte, 10 metros lá em baixo nas rochas. Eu lutava para içar o Alfredo contra ele e a força da gravidade. Finalmente consegui! Puxei o Alfredo para cima das rochas e ele ficou a saltitar. E eu pensei “e agora,?” Tinha grandes dentes o raio do bicho. Fiquei à espera que morresse sozinho, por falta de ar ou algo do género. Esperei 2 minutos e ele sempre a respirar assim como aquelas mulheres de 50 anos que têm quebras de tensão nos casamentos e ficam meio apáticas, com a boca aberta e as pessoas a segurar-lhes nas mãos e a passar-lhes panos com água pela testa e elas sempre a arfar. Às tantas peguei na minha faca de pesca e aproximei-me do Alfredo. Meti-lhe a cortiça dos anzóis em cima dos olhos para não assistir ao seu olhar.. ergui a faca, inspirei fundo… a minha mão tremia… espetei-lhe a faca por cima das guelras. O Alfredo deu um estertor e o sangue começou a escorrer pela rocha. Achei que devia filmar para depois postar na fanpage do ISIS com a hashtag #infidel fish. O certo é que o Alfredo não morreu. Continuou ali aos saltecos. Senti-me num episódio do Dexter. Ainda esperei um bocado, mas às tantas fartei-me e cortei a linha perto do anzol e empatei outro anzol, deixei o Alfredo morrer sossegado nas rochas.
Já em casa, vi na net que peixe é que tinha pescado. Um peixe porco de 990gr. Muito bem. Um peixe porco. Está certo. Escamar, esquece. Para furar a pele teve de ser com serrote na cauda e esfolado com alicate. Aproveitaram-se 4 filetinhos para uma entrada. Fiz muito simples para perceber melhor o sabor, uma marinadinha de azeite e umas pitadas de vinagre de arroz, pimenta fresca e uns toques de sal, frigideira com uma noz de manteiga, deixei-os tenros e não demasiado passados. Obrigado ao Alfredo. Ele foi o primeiro peixe que pesquei e eu fui o primeiro pescador que o pescou, estou em crer, pois duvido que fosse assim tão ‘pargo’ para cair no mesmo truque duas vezes 😀 calula!
a minha linha de lençóis, na area
Platini congratula-se
Platini congratula-se pela decisão da FIFA de proibir fundos de investimento nos passes
Já disse o quanto gosto de Platini, do Blatter, e da querida Fifa e UEFA?
Penso que os fundos de investimento seriam uma hipótese de ‘terceirizar’ e dispersar o risco financeiro associado a compra de jogadores por parte dos clubes. A mais valia dos clubes portugueses como Benfica, Porto ou Sporting prende-se com scouting de talentos e formação de topo, para revenda ao patamar seguinte, os clubes mais ricos do mundo, de que Platini e a Fifa são, como demonstram à saciedade, os vassalos. Com a crise financeira, os galopantes passivos dos clubes e outros factores, este foi o instrumento que surgiu e no qual Portugal até foi dos pioneiros. Cerca de 36% do valor dos activos do futebol português está nestes fundos de acordo com a KPMG. Se alguém me conseguir explicar qual o problema de investidores privados decidirem eles próprios arriscar a compra de passes, em vez de serem os clubes a arriscar com dinheiro emprestado dos bancos, eu agradecia. O que Platini defende é o domínio cada vez maior de clubes que são detidos por oligargas russos, cheiques sauditas e corporações, mesmo que haja algumas investigações de fairplay financeiro a tentar branquear a situação.
eu gosto é de ser panteísta
ranger psicadélico
^_^
contemplai, senhoras e senhores
Tropecei neste extraordinário pedaço de retórica no Observador, pela pena do escriba Rui Ramos, a propósito das recentes declarações do pobre Stephen Hawking que disse não acreditar na existência de Deus e que é ateu (mas está, como veremos, e como Rui Santos demonstra habilmente, enganado). Antes de prosseguir, gostaria de salientar que este foi um golpe duro, o desferido por Stephen Hawking. É um homem que há cerca de duas décadas estava no goto de muitos religiosos pela sua teoria das singularidades: como os buracos negros não possibilitavam qualquer transferência de informação, o que neles “caía”, digamos assim, perdia-se para sempre e deles nada saía (observações empíricas provaram que afinal não será exactamente assim). E que o momento de criação do universo tinha sido uma singularidade, ou seja, era impossível reconstruir a criação, ela era infinitamente misteriosa. Nessa altura teólogos ficaram entusiasmados, pois o mais proeminente físico vivo, para além de ser uma bandeira (involuntária) contra eutanásia e mostrar que qualquer tetraplégico pode muito bem descobrir os segredos do universo inteiro se lhe derem um Magalhães, um comando de playstation colado ao queixo e bom material escolar, o mais proeminente físico, dizia, tinha demonstrado matematicamente, vejam bem senhores, matematicamente, que a ciência tinha um limite, que a realidade estava pejada de micro-buracos negros, que tudo podia acontecer e era plausível, inclusive os milagres, pois Hawking demonstrara a existência desse muro opaco que separava o terreno do território celeste de Deus nosso senhor. Ou pelo menos, assim o interpretaram muitos religiosos que se apressaram a concluir tal coisa em artigos de opinião. Tenho boa memória porquê? Porque na altura, já na minha imberbe adolescência, achei curioso que as pessoas de Fé não tivessem reticências em subitamente aceitar conclusões científicas quando estas coincidiam com as suas próprias convicções, mas que quando delas divergiam, as desvalorizavam e, mesmo não negando a validade do mundo científico, relegavam-nas para um plano inferior ao da discussão teológica e da fé. Outro aspecto positivo do trabalho de Hawking do ponto de vista da Igreja, foi o ter elevado de tal forma o nível de complexidade e abstracção da matemática envolvida nas suas teorias, que para 99.9% da população elas são tão místicas e misteriosas como uma missa em latim.
Portanto, para alguns crentes, isto que Hawking fez foi um bocadinho uma desfeita, isto de dizer preto no branco, estas coisas, apesar do homem já no início dos anos oitenta ter dito que Deus era desnecessário se o universo fosse fechado desde a criação – Deus não teria livre arbítrio e até o disse em conferências organizadas pelo Vaticano. Mas adiante. Rui Silva achou por bem intrometer-se em frente à cadeira de rodas de Hawking e fazer-lhe assim STOP com a mão. Alto aí, não tão depressa, caro Stephen.
Devo dizer que comecei a ler o dito artigo sem qualquer preconceito e o choque foi descendo sobre mim, causando-me formigueiros nos membros e por fim alguma paralisia. Estar-me-ia a transformar em Stephen Hawking, sofrendo da maleita que o acometeu? Terá Stephen Hawking sido exposto, em pequeno, a um catequista particularmente obtuso e terá, por via de espasmos nervosos, ficado paralítico em grande aflição, como eu fiquei depois do almoço a ler isto? Não sei quem é Rui Roberto. Se fosse alguém como João Cesar das Neves ou o Saraiva do Sol, eu saberia mais ou menos com o que contar e não me apanhavam desprevenido, até os leio com boa disposição. Mas este tem uma fotografia de colunista em que parece alguém cosmopolita, moderno, sofisticado, urbano, modern, de quem num momento fala de um destino de férias exótico como no momento a seguir tem uns apontamentos de política e economia com generalidades do género “é necessário Portugal ter uma estratégia de crescimento” etc. etc. Nada nos prepara para isto, portanto. O artigo começa com a mais fantástica peça de retórica e de silogismos que já me foi dada a ler. Tentem seguir o raciocínio de Rui Paulo sem ser perderem:
Stephen Hawking acredita que Deus não existe. Ora, isto não é a mesma coisa que não acreditar em Deus. Se eu não acredito em Deus, eu não sei se ele existe ou não existe. Simplesmente, não tenho fé, como diria um cristão. Mas se eu acredito que Deus não existe, eu tenho fé, embora diversa – a fé na inexistência de Deus. A diferença entre as duas posições é por vezes expressa pelo contraste entre agnosticismo e ateísmo. Hawking não deixou dúvidas ao El Mundo: é ateu. Mas dizer só ateu pode não chegar para definir a posição de Hawking.
Ui. Aqui já começamos a ficar desconfiados e confusos. Vamos supor que Stephen Hawking queria mesmo só dizer que era ateu. Se vocês fossem autores de uma coluna de jornal, teriam tema para escrever se interpretassem de modo tão básico que Stephen Hawking é ateu porque disse que se considerava ateu? De modo nenhum. Rui Miguel foi pela lógica e a metafísica de inspiração teológica, mas podiam ter ido pelo lado do bug no software usado por Stephen Hawking e que o faz falar com aquela voz. Podia ser um erro de interpretação, o queixo dá um toque no comando, basta um milímetro e de ateu passamos a crentes. Se calhar Stephen Hawking é surdo e quando sorri com aquela cara enquanto fala, não se apercebe que o computador está a dizer disparates. Até há quem diga em conversas de café, que Hawkings está em morte cerebral e que é o computador que faz o trabalho todo e que não nos podemos admirar se o próximo astrofísico de relevo for o Michael Schumacher. Continuemos.
A questão é determinar de que modo, entre a fé em Deus e a fé na inexistência de Deus, Hawking passa de uma margem para a outra. A sua ponte não é o cepticismo, mas a ciência, ou melhor, uma variante muito especial da experiência científica, que funciona de facto como o equivalente laico da fé religiosa. Hawking sente pela ciência a devoção que qualquer beato dispensa ao seu todo-poderoso ídolo. Acredita piamente na omnipotência do conhecimento humano sob a forma científica: “Creio que conseguiremos compreender a origem e a estrutura do universo(…). Na minha opinião, não há nenhum aspecto da realidade fora do alcance da mente humana”
Portanto, se não acreditamos em Deus, isso é equiparável a uma fé. Eu tenho fé que Deus não existe será o negativo de ter fé que ele existe. Portanto, eu tenho fé quando acho que o Pai Natal não existe. Tenho a fé que não existe. Tenho de ter fé para negar tudo aquilo de que não tenho provas. É cansativo, o mundo de Rui Nelo. Talvez explique porque há tantos agnósticos e tão poucos ateus. Não estão para se chatear. Se dissermos “não acredito na existência de Deus” mas o dissermos de forma muito convicta, pode ser indelicado e ofensivo, é preferível o mais português “eu acho que não existe… se existe ou não, não sei, não quer dizer que não exista, cada qual sabe de si não é? Hoje é assim, amanhã como é? Não sabemos” etc. Isso e acrescentar “mas sou uma pessoa espiritual”.
Continuemos. Para Rui Armindo, é claro que há uma variante de experiência científica que é o equivalente laico da fé religiosa. Eu deduzo isto porque ele escreve explicitamente essa mesma frase. Hawking, prémio nobel da física, uma das mentes mais brilhantes de sempre, um homem que lida com a linguagem límpida da matemática, que constrói teorias com base em observações empíricas cada vez mais sofisticadas, sempre sujeito a revisão (que até sucedeu no seu tempo de vida), que tem o seu trabalho esquadrinhado e testado por cosmólogos, físicos, matemáticos, astrónomos, astrofísicos… é aqui reduzido a “um qualquer beato”. Não há diferença entre Hawking e a sua devoção pela ciência e uma velhinha que faz os 100 metros de joelhos em Fátima para expiar a tristeza de ter um filho que escreve artigos assim no Observador. Hawking disse ao El Pais: creio que conseguiremos compreender a origem e a estrutura do universo(…). Na minha opinião, não há nenhum aspecto da realidade fora do alcance da mente humana”, para Rui Tovar é uma omnipotência, um disparate, como seria navegar à volta do globo e não “cair para baixo do outro lado” para o seu bisavô e outros disparates semelhantes.
O pior vem aqui. Não é bem o pior. Mas não há dúvida que Rui Moreira tem a capacidade de nos puxar cada vez mais para baixo, em direcção a lagos de fogo cheios de diabos com tridentes, como um poema do Dante.
O mais surpreendente em Hawking é a pobreza da sua concepção de Deus. Hawking passa por cima de séculos de meditação e de debate. Simplesmente, não vê “milagres” (porque não são “compatíveis” com a sua ciência), e portanto não vê Deus. No “passado”, antes da ciência, admite que era “lógico acreditarmos que Deus criou o universo”. Deus é, para ele, uma relíquia de fases primitivas do conhecimento humano, quando o gentio ainda não percebera que a natureza estava proibida de divergir das leis fixadas pelos professores universitários. É nesse sentido, que Hawking crê que Deus foi substituído pela ciência
Hawking, em vez de perder tempo com as suas teorias e ideias cabeludas, andou a estudar as coisas erradas, não meditou nos assuntos certos. Em vez de procurar aprender as coisas pela Bíblia, pelos ensinamentos passados de geração em geração, teve o desplante de olhar para o futuro pelo telescópio mágico da atrofísica, essa arte do demo que permite antecipar milagres como o da energia nuclear ou relatividade do tempo meio século antes da humanidade ter os meios para concretizar a prova empírica. Hawking perdeu os fantásticos debates e não meditou nos assuntos do grande sábio Rui Semedo. Ele sim, meditou e em vez de passar por cima da catequese, prestou atenção. Se Hawking não vê milagres, é porque não está a ver com atenção. E vocês vêem milagres?
Para os cristãos, Deus fez-se carne; para Hawking, Deus fez-se ciência, e é por isso que não hesita em reivindicar para a ciência todos os tradicionais atributos divinos, menos os “milagres” – o que, todavia, não o impede de avançar com transcendentes promessas de salvação, como a de que a exploração espacial “poderá evitar o desaparecimento da Humanidade devido à colonização de outros planetas”. A ciência, aparentemente, tem os seus milagres, embora do género Star Wars.
Primeiro, Hawking nunca diz, foda-se, nunca, que DEUS FEZ-SE CIÊNCIA. Isso é uma interpretação do Rui António. Aqui já estou a começar a perder a capacidade de distanciação irónica. Não sei como o maradona ou o alf conseguiam fazer estas coisas com nível até ao fim, eu chego a meio do texto e já estou exausto. Portanto, a exploração espacial e a colonização de outros planetas, é para o Rui Pedro, uma transcendência “do género Star Wars”. Que a humanidade perante a inevitabilidade da morte do Sol, de algum cataclismo cósmico, daqui por 10 mil, 100 mil, 500 mil anos seja capaz de engendrar uma solução como gigantescas naves com biosferas, capazes de viajar pelo espaço à procura de planetas colonizáveis, é para o pequeno Rui António, uma transcendência idiota, mas acreditar na Palavra do Senhor, numa judeia far far away…
O golpe fatal, enfim, fetal, vem no último parágrafos. Aqui Rui Fernando parece querer empurrar Hawking de umas escadas abaixo:
A ciência não é necessariamente sabedoria, se entendermos por sabedoria, não apenas o raciocínio e o conhecimento, mas também a humildade e a ponderação. Hawking pode ser um génio da astrofísica, mas não é um sábio. Chesterton dizia: quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em tudo. O Hawkings da entrevista ao El Mundo é um exemplo dessa credulidade. Onde tudo isso nos pode levar, vimo-lo o mês passado, graças a outro crente da ciência e inimigo de Deus, o geneticista Richard Dawkins. Sem inibições, deu a entender que, por ele, “é imoral” não abortar fetos com síndroma de Down (Rui Filipe até meteu link e tudo!!!) Eis a ideia de moral de quem, com a “lógica” do seu lado, se sente um novo deus.
Portanto, até 95% do texto temos Hawking no texto, mas tudo não passa de uma armadilha bem urdida. Notem como o texto evolui até à catarse final deste parágrafo. O artigo começa com as típicas cogitações e floreados de retórica infantil que aturamos de amigos católicos com os copos naquelas discussões acesas no Bairro Alto, mas que aqui num artigo Rui Terêncio quer fazer passar por filosofia da pesada, vai-se entusiasmando texto abaixo e no fim, zás, ocorre um milagre no texto. Notem como o Hawking passa primeiro a Hawkings (vermelho é meu) e depois já falamos de Dawkins e o artigo termina com um “eis a ideia moral de quem, com a “lógica” (entre aspas, claro, bastam aspas para dar aquele toque de gozo a uma palavra) do seu lado, se sente um novo deus. E agora seria preciso defender Dawkins Hawkings Hawking. Em vez disso, deixo aqui um belo poema de uma personagem de um livro do Eça de Queiroz, e que um amigo meu, bastante ébrio, costumava recitar para gáudio geral e que aqui reproduzo de memória
Deus Existe
Tudo o Prova
Tanto tu altivo Sol
Como tu raminho verde
Onde canta o Rouxinol