Um bebé é uma coisa assim alien, vem do espaço, é isso que um pai com sensibilidade literária que se preze e que lê ficção científica sente. Os olhos pacíficos, azulados, contemplam-nos com serenidade, de muito longe, mas muito perto. A pouco e pouco vai aprendendo os nossos costumes e começa a ser humano, muitas vezes é um espelho genético dos pais e não só e nota-se antes mesmo de verbalizar pensamentos elaborados.
Há dias senti o primeiro momento de verdadeira comunhão com ela. A ver o Baby TV, lado a lado, de manhã muito cedo. Ela concentrada, encostada ao sofá, ao meu lado. Foi o estar ao meu lado, encostada, cotovelo contra cotovelo. De vez em quando olhava para mim e comentava algo na sua linguagem já elaborada e eu respondia. Depois voltávamos a ver mais um pouco. Aqueles instantes em que ela e eu estávamos lado a lado a assistir a qualquer coisa, foi como um fast forward para o futuro. Há uma pessoa nova na minha vida. Uma pessoa que vem de onde? Estou tão embasbacado com isto.
Sinto exatamente o mesmo deslumbramento com esse milagre do onde havia dois passam a haver três e não sou mãe. Parece ficção científica.