e contratar pessoas que não sejam idiotas, é possível?

Alguém me sabe dizer onde posso encontrar as míticas estatísticas dos acidentes com bicicletas em Portugal? Acidentes, mortos, em que circunstâncias aconteceram? Não encontro nada e acho uma perda discutir sobre o vazio e falta de informação objectiva.

Infelizmente, quem faz o tratamento dos números, aqui ou noutro lado, costumam ser pessoas limitadas. Dou como exemplo este conjunto quase imprestável de dados da ROSPA.

A sério, não é possível pagarem a pessoas com licencituras em estatística ou matemática para ajudar o tipo de pessoas que acha que “80% occur in daylight” ou “80% of cyclist casualties are male” ou “75% of fatal or serious cyclist accidents occur in urban areas” é relevante para alguma coisa?

O cúmulo da inferência é esta: «For child cyclists, 90% of their accidents occur during the day. The most dangerous hours for cyclists are 3.00 to 6.00 p.m. and 8.00 to 9.00 a.m. »
Wow. Estou speachless. Portanto já sabem pais. Evitem andar com as crianças de dia, as horas mais seguras são entre as 6pm e a 9am do dia seguinte. Até recomendo irem para a 24 de Julho de madrugada, é o melhor.

martelinhos

Ultimamente tenho visto brinquedos com aquela estética de madeira retro que parecem saídos dos anos 60 e 70.  Na minha leva de brinquedos que veio da Bélgica comigo em 1981, incluiu-seuma coisa destas que agora vejo em várias lojas (de outras marcas, mas o princípio sofisticado é o mesmo).
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Não sei se em Portugal este brinquedo é novidade, pois cresci na província e o que nós tínhamos no início dos anos 80 era carrinhos de lata, bolas de trapos, espadas de chouriça endurecida, sacas de sarrapilheira, cães, tripa de porco para fazer balões, linha de coser e cola tóxica e sapatos para arranjar, carrinhos de rolamentos, bota botilde e, quando vinham os comunistas da cooperativa ameaçar a capela, enxadas e forquilhas. Não existiam cá os brinquedos didáticos de inspiração sueca e alemã que explicam o sucesso do modelo nórdico e o facto dos portugueses terem desenvolvido outras capacidades, como a de pedir dinheiro emprestado aos nordicos, fingindo que se é bom aluno deles para que nos perfilhem. Acho que parte do sucesso nórdico advém deste brinquedo . Eu certeza que brinquei com isto com três anos de idade. Pregos afiados, um martelo pesado e plaquinhas de madeira. Era o brinquedo mais disciplinador que já tive e quase fiquei nórdico. Guardo dele a recordação de perceber que há coisas que não se deve fazer, como segurar um prego contra a unha do  dedo grande do pé e dar-lhe uma martelada a ver se fura. Ou esquecer-me de um dedo entre o martelo o alvo do mesmo, repetidamente. Ou que se tentarmos encaixar as peças umas por cima das outras à martelada, sem pregar no buraco do meio, elas acabam por rachar todas e partir. E que não adianta experimentar outra e outra vez até todas as peças estarem partidas porque depois é muito mais difícil encaixá-las. Ou que não é boa ideia pregar outras coisas à placa de madeira, como uma fatia de queijo, brócolos ou o ecrã de cristais líquidos do relógio digital do pai. E que não é boa ideia pregar as pecinhas à mesa da sala de jantar. Este brinquedo não se me adaptou bem ao contexto português, digamos assim, e deixei de brincar com ele, em parte por isso, em parte porque desapareceu de casa misteriosamente pouco tempo depois de chegarmos cá. Não há dúvida que assistir ao regresso deste clássico em 2015  – que vou obviamente adquirir para a minha filha – é um sinal de que vamos no bom caminho e que se calhar não é preciso esperar até 2045 para vermos crianças com iPads.

ão ão

Hoje ela acordou muito cedo e então não fui correr, mas ainda bem, pois estava com muito cansaço acumulado. Ficámos os dois no sofá a ver os bonecos, eu deitado, ela a ver os bonecos e a fazer as suas habituais ginásticas malucas em que experimenta todo o tipo de poses e eu a vê-la a ela, tentando proteger os meus orgãos internos de alguns saltos mais assertivos em cima de mim. É muito divertido observá-la e servir-lhe de colchão insuflável. E instrutivo. Coisas pequenas, como a bola, o próprio pé e a mão a sair da manga do casaco podem ser motivo de enorme divertimento, uma e outra vez. E o divertimento deve ser partilhado. Às tantas damos por nós a ficar surpreendidos e eufóricos quando aparece um cão na tv e também gritamos CAAAAAOOoooOOOO ao mesmo tempo, seguido de ‘ão ão’.

papelinhos

Ok, acho que é justo que depois de tanta reclamação eu venha só aqui dizer que hoje dois (!) taxistas foram bem educados comigo, um deles fez-me sinal para passar na passadeira e tudo. E que normalmente até não tenho stresses. Se bem que o outro, logo após me ter feito sinal com a mão para me agradecer eu tê-lo deixado entrar na estrada, atirou uma série de papelinhos rasgados pela janela do taxi, em andamento… Parecia confeti de agradecimentos… Não se pode ser demasiado exigente.

Padaria Portuguesa

Li a opinião (que muito respeito e que está bem articulada) da Polo Norte sobre a Padaria Portuguesa e devo dizer que discordo no particular da Padaria Portuguesa. Ou seja, sim, também me irrita a cena portuguesa vintage marketing fabricada em geral, sem dúvida, mas não o declínio e morte salutar dos velhos negócios. Não apenas porque sou um gajo frio que trabalha em branding e é neoliberal. Pela mera experiência de cliente. A verdade é que só gosto do pequeno comércio tradicional – que abunda no meu bairro como em quase nenhum outro de Lisboa – quando há algo que justifique a “tradicionalidade”. Se é pelo lado afectivo, sensível, quero que se lixem. Percebo o sucesso do Rio de Mel (frangaria), da conchanata (gelados) , do Tico Tico, dos caracóis do Pomar de Alvalade ou da Mercearia Charcutaria Riviera. MAs a maior parte do pequeno comércio? MEu Deus… Não há como dar a volta, tenho 2 talhos na minha rua, tradicionais, nenhum tem tão boa carne como o talho do Pingo Doce do meu bairro, lamento, bem que gostava, mas não, não é e uma vez aldrabaram-me, nunca mais, riscou. Frutarias, há 3 no meu bairro, mas a escolha é pobre, numa venderam-me à socapa beringelas podres. Risca. Lojas de utilidades, venderam-me uma tábua de engomar para anões, sem me dizerem nada, tinha apenas um metro de altura. Risca. Uma loja de queijos / charcutaria tinha apenas 2 vinhos. 2 vinhos. Por amor de deus. Têm uma selecção de queijos e só têm 2 vinhos? Cross selling? Século XXI? Demorei 30 minutos a ser atendido quando o objectivo era ir a um jantar de um vizinho e levar vinho e já estava atrasado. O motivo? Não sabiam o preço do vinho. Cafés? Não me façam falar nos cafés. Os cafés são o pior. Safa-se apenas a tasca da minha rua e o jacaré paguá da avenida de roma. A sul américa tem dois empregados muito bons, mas o dono é mal formado e antipático. A Nova Lisboa tem preços absurdos, toda gente se conhece, ninguém é simpático comigo excepto na parte da cervejaria e do restaurante, do balcão onde gosto de ir beber umas cervejas e comer tremoços, mas a cafetaria é má, especialmente o serviço de mesas. Nos outros cafés chego a ter de me levantar e exigir a conta porque o empregado simplesmente se esqueceu de vir uma 2ª vez à esplanada, só a visita de 20 em 20 minutos. E a padaria portuguesa. Pois, era aí que queria chegar. Gosto daquilo. Gosto dos putos que são brincalhões e simpáticos com todos. Gosto da ordem na fila (ao contrário da Polo Norte, não tenho qualquer paciência para achar piada a filas caóticas) pelo sistema de senhas. Gosto da forma como colaboram uns com os outros. Um pede um café, o outro tira, sempre a mexer. Não é como nos estabelecimentos “tradicionais” em que parece que os empregados estão sempre de candeias às avessas uns com os outros, aquela mesa não é a dele, o colega é que me devia atender, se é para pedir a conta peça ao colega, etc. Ok, podem achar isso castiço, eu quero que isso se foda. Assim, bem curto. E fico feliz pela Paderia arrebentar com aquilo. O preço é imbatível. 2 euros e meio e tenho uma sandes de fiambre, um sumo de laranja e um café, algo que me custaria quase 4 euros no café do outro lado da rua. Nem acho que concorram contra padarias propriamente dito, pois isso quase não existe, mas sim com cafés. Os sumos naturais são mesmo bons, os bolos são divinais, a única coisa menos excelente é o pão deles, é apenas “bom” ou “aceitável”. Têm lá o prokorn que um dia uma senhora ao meu lado chamou aquilo pop korn e eu ri-me muito “queria um pop korn” disse ela. Sinto falta de um pão de Mafra ou de um pão alentejano bom, de umas bolas fumegantes daquelas que só se mete manteiga e chega, mas a verdade é que não o encontro em padarias de Lisboa excepto em algumas mercearias de especialidade. A quantidade de pão absolutamente miserável que há nos cafés e snack bars portugueses, os palmiers secos, os pastéis de nata elásticos, os croissants com chocolate que têm tulicreme lá dentro… A esplanada da Padaria tem gente o tempo todo. Não acho o sítio “cool”, acho-o até bastante despretensioso e funcional. Não é um starbucks. Além disso, acho que o produto é bom e tem uma enorme variedade. Não quero aqui fazer publicidade, nada me move para isso, mas a verdade é que antes da Padaria Portuguesa existir eu sentia mesmo necessidade de uma alternativa que concorresse com a cafetaria tradiconal portuguesa que é miserável, desde os ambientes à pasteleria sem imaginação, sempre igual e raramente caseira. No meu bairro fez uma diferença enorme para melhor. Não sei se são todas iguais, mas eu gosto da minha Padaria Portuguesa e do pessoal que lá trabalha e o meu ritual novo de ir lá comprar o pão depois de correr.

bicicletas e passadeiras

Uma regra que pelos vistos alguns automobilistas de Lisba sabem e gostam de demonstrar que sabem apitando e esbracejando: as passadeiras não são para as bicicletas. Nem que o ciclista esteja parado à espera que os carros parem ou por ele ou por outros peões e nunca se atire para a frente assumindo que o carro vá parar. Nem que o ciclista não  tenha causado o mínimo de incómodo, susto ou contrariedade. Nem que o ciclista faça contacto visual e agradeça sempre a cortesia e a felicidade que é haver muitos condutores que não sofrem  de retenção anal e numa situação assim não exijam que o ciclista desmonte, visto que todos já pararam e todos percebemos o conceito de passadeira, as relações de hierarquia de massa de cada veículo, o que está em causa e para que serve, quem deu licença a quem, quem se partia todo em caso de choque etc. Embirrar com uma bicicleta que passa numa passadeira nestas circunstâncias, em que está parado à espera de passar ou não causou qualquer incómodo, está ao mesmo nível que embirrar com um peão que atravesse no sinal vermelho para peões numa rua em que não vem carro nenhum ou embirrar com um condutor porque parou em 2ª fila 30 segundos para deixar uma pessoa sair do carro ou embirrar com a mota que vai no meio de duas faixas num engarrafamento. No dia a dia temos dezenas de interacções de tolerância e racionalidade, civismo, educação. É nítido para mim nesta hostilidade de alguns condutores que o problema de raiz mesmo é ainda falta de hábito perante uma realidade que lhes é ainda desconhecida e a construção de um preconceito que os torna hiper atentos a um fenómeno em particular, mesmo que durante o dia lidem com muito mais infracções ou incómodos vindos de outras fontes. Hoje são uma dúzia de bicicletas. Há 10 anos se vissem uma no trajecto, era uma sorte. Se daqui a uns tempos forem 100 bicicletas em vez de uma dúzia, lá se vão habituar.

Entretanto, poucos minutos depois de mais uma demonstração de didatismo rodoviário de um condutor com retenção anal e que vinha com muita, muita, muita pressa e quase faleceu quando teve de parar para deixar passar um peão e deixar passar-me a mim ao mesmo tempo, vejo uma carrinha comercial na rua Ivens que continuou furiosamente em contra mão a rua quase toda, vindo do largo das belas artes (é de sentido único a meio). Em vez de virar no sentido obrigatório, continuou direito a mim, eventualmente assumindo que eu é que era o maluco do ciclista e que achava que a estrada era toda minha e as passadeiras também. Sei que numa situação destas os condutores da carrinha corriam perigo extremo de vida em caso de choque frontal, como correm nas passadeiras em caso de embate com um ciclista, por isso optei por deixá-los viver e desviei-me a tempo, porque do lado de lá, não houve a menor hesitação, nenhum sinal de dúvida, numa estrada com a largura de 1 carro e em que dos dois lados todas as viaturas estavam compactamente estacionadas na direccção oposta à que a carrinha seguia. Nada disto os deteve. Ainda me voltei para trás para tentar perceber se eu é que tinha falhado um sinal mas não. Um senhor transeunte ficou surpreendido pois ia com fones, de costas e não a viu aproximar-se. Lá está, o senhor transeunte estava a andar no meio da estrada, de fones, lá porque não era suposto vir carro nenhum naquele sentido e no outro também não vinha nenhunm a culpa era dele, em vez de andar no passeio, pôs os condutores da carrinha em risco de vida. Finalmente outro senhor fez sinais aos condutores e a carrinha parou, ainda hesitando se não continuava em contra-mão até à rua Garrett, em grande risco de vida.

fuck

Para além de ter batido os meus tempos da Meia Maratona todos , neste fim de semana fui pescar de novo. Não quero esmiuçar muito as coisas, mas o primeiro peixe que apanhei foi um singelo carapau, grande. Sempre pensei que o carapau fosse aquele peixe de massas, de povo, aos cardumes, apanhado em paletes, nas redes, como os anarquistas que são metidos em carrinhas da polícia nas reuniões no G8. Nunca pensei que o carapau fosse um peixe. Assim um peixe com identidade e personalidade própria. Saco este carapau dos grandes e decido não ser pussy e cortar a linha, deixando para a autópsia na mesa de cozinha a operação de lhe retirar o anzol. Pego no alicate e dirijo-me ao bicho aos saltos na rocha, slap slap slap. Agarro-o com um pano na mão e aperto-o para que abra a boca. Solta um grito. O cabrão do carapau gritou EEEEEEHHHHHHHHHKKK com o último ar a sair-lhe dos pulmões de peixe, o seu grande olho vidrado em mim, numa expressão de pânico, implorante, sangue a escorrer-lhe das guelras. Foda-se. Vem uma pessoa pescar para esquecer a semana e apanha com material de pesadelos para o resto da vida.