Li a opinião (que muito respeito e que está bem articulada) da Polo Norte sobre a Padaria Portuguesa e devo dizer que discordo no particular da Padaria Portuguesa. Ou seja, sim, também me irrita a cena portuguesa vintage marketing fabricada em geral, sem dúvida, mas não o declínio e morte salutar dos velhos negócios. Não apenas porque sou um gajo frio que trabalha em branding e é neoliberal. Pela mera experiência de cliente. A verdade é que só gosto do pequeno comércio tradicional – que abunda no meu bairro como em quase nenhum outro de Lisboa – quando há algo que justifique a “tradicionalidade”. Se é pelo lado afectivo, sensível, quero que se lixem. Percebo o sucesso do Rio de Mel (frangaria), da conchanata (gelados) , do Tico Tico, dos caracóis do Pomar de Alvalade ou da Mercearia Charcutaria Riviera. MAs a maior parte do pequeno comércio? MEu Deus… Não há como dar a volta, tenho 2 talhos na minha rua, tradicionais, nenhum tem tão boa carne como o talho do Pingo Doce do meu bairro, lamento, bem que gostava, mas não, não é e uma vez aldrabaram-me, nunca mais, riscou. Frutarias, há 3 no meu bairro, mas a escolha é pobre, numa venderam-me à socapa beringelas podres. Risca. Lojas de utilidades, venderam-me uma tábua de engomar para anões, sem me dizerem nada, tinha apenas um metro de altura. Risca. Uma loja de queijos / charcutaria tinha apenas 2 vinhos. 2 vinhos. Por amor de deus. Têm uma selecção de queijos e só têm 2 vinhos? Cross selling? Século XXI? Demorei 30 minutos a ser atendido quando o objectivo era ir a um jantar de um vizinho e levar vinho e já estava atrasado. O motivo? Não sabiam o preço do vinho. Cafés? Não me façam falar nos cafés. Os cafés são o pior. Safa-se apenas a tasca da minha rua e o jacaré paguá da avenida de roma. A sul américa tem dois empregados muito bons, mas o dono é mal formado e antipático. A Nova Lisboa tem preços absurdos, toda gente se conhece, ninguém é simpático comigo excepto na parte da cervejaria e do restaurante, do balcão onde gosto de ir beber umas cervejas e comer tremoços, mas a cafetaria é má, especialmente o serviço de mesas. Nos outros cafés chego a ter de me levantar e exigir a conta porque o empregado simplesmente se esqueceu de vir uma 2ª vez à esplanada, só a visita de 20 em 20 minutos. E a padaria portuguesa. Pois, era aí que queria chegar. Gosto daquilo. Gosto dos putos que são brincalhões e simpáticos com todos. Gosto da ordem na fila (ao contrário da Polo Norte, não tenho qualquer paciência para achar piada a filas caóticas) pelo sistema de senhas. Gosto da forma como colaboram uns com os outros. Um pede um café, o outro tira, sempre a mexer. Não é como nos estabelecimentos “tradicionais” em que parece que os empregados estão sempre de candeias às avessas uns com os outros, aquela mesa não é a dele, o colega é que me devia atender, se é para pedir a conta peça ao colega, etc. Ok, podem achar isso castiço, eu quero que isso se foda. Assim, bem curto. E fico feliz pela Paderia arrebentar com aquilo. O preço é imbatível. 2 euros e meio e tenho uma sandes de fiambre, um sumo de laranja e um café, algo que me custaria quase 4 euros no café do outro lado da rua. Nem acho que concorram contra padarias propriamente dito, pois isso quase não existe, mas sim com cafés. Os sumos naturais são mesmo bons, os bolos são divinais, a única coisa menos excelente é o pão deles, é apenas “bom” ou “aceitável”. Têm lá o prokorn que um dia uma senhora ao meu lado chamou aquilo pop korn e eu ri-me muito “queria um pop korn” disse ela. Sinto falta de um pão de Mafra ou de um pão alentejano bom, de umas bolas fumegantes daquelas que só se mete manteiga e chega, mas a verdade é que não o encontro em padarias de Lisboa excepto em algumas mercearias de especialidade. A quantidade de pão absolutamente miserável que há nos cafés e snack bars portugueses, os palmiers secos, os pastéis de nata elásticos, os croissants com chocolate que têm tulicreme lá dentro… A esplanada da Padaria tem gente o tempo todo. Não acho o sítio “cool”, acho-o até bastante despretensioso e funcional. Não é um starbucks. Além disso, acho que o produto é bom e tem uma enorme variedade. Não quero aqui fazer publicidade, nada me move para isso, mas a verdade é que antes da Padaria Portuguesa existir eu sentia mesmo necessidade de uma alternativa que concorresse com a cafetaria tradiconal portuguesa que é miserável, desde os ambientes à pasteleria sem imaginação, sempre igual e raramente caseira. No meu bairro fez uma diferença enorme para melhor. Não sei se são todas iguais, mas eu gosto da minha Padaria Portuguesa e do pessoal que lá trabalha e o meu ritual novo de ir lá comprar o pão depois de correr.