Para além de ter batido os meus tempos da Meia Maratona todos , neste fim de semana fui pescar de novo. Não quero esmiuçar muito as coisas, mas o primeiro peixe que apanhei foi um singelo carapau, grande. Sempre pensei que o carapau fosse aquele peixe de massas, de povo, aos cardumes, apanhado em paletes, nas redes, como os anarquistas que são metidos em carrinhas da polícia nas reuniões no G8. Nunca pensei que o carapau fosse um peixe. Assim um peixe com identidade e personalidade própria. Saco este carapau dos grandes e decido não ser pussy e cortar a linha, deixando para a autópsia na mesa de cozinha a operação de lhe retirar o anzol. Pego no alicate e dirijo-me ao bicho aos saltos na rocha, slap slap slap. Agarro-o com um pano na mão e aperto-o para que abra a boca. Solta um grito. O cabrão do carapau gritou EEEEEEHHHHHHHHHKKK com o último ar a sair-lhe dos pulmões de peixe, o seu grande olho vidrado em mim, numa expressão de pânico, implorante, sangue a escorrer-lhe das guelras. Foda-se. Vem uma pessoa pescar para esquecer a semana e apanha com material de pesadelos para o resto da vida.
Ri-me tanto, mas tanto, que chorei copiosamente. Depois li à minha filha mais velha enquanto continuava a rir-me. Pu-la a rir e voltei a chorar. Tive que tirar o rimmel às pressas, os meus olhos estavam assim como os do carapau.
Obrigada. Mesmo.
eermmmm de nada… eu … eu… isto não é nada, textos destes faço eu todos os dias eu eu
Ora essa. Então eu estava predisposta (?)
Venho cá tantas vezes, rio-me muitas vezes, mas nunca como hoje.
E estou, como sempre, sobriíssima!
assassino!
Um amigo do meu pai, pescador amador, iniciou o filho nessas artes.
Quando o peixe se tornou real, não um objecto morto de peixaria, o miúdo desatou aos gritos:
– Ó pai bota-o à água, deixa-o biber.
– Tá bem, mas foda-se, nunca mais vens comigo à pesca.
Consigo relacionar-me com isso. O cabrão do carapau fez mesmo eeeeeek, juro. Porra.