Month: Novembro 2014
estou a arrastar a minha filha para desportos radicais?
A mulher portuguesa é em geral uma flor de estufa com o termostato avariado, há sempre calor a mais, frio a mais, chuva, vento, subida, descida, lama, desconforto… Vai desde o “estás maluco, a água está demasiado fria para um mergulho”, passando pelo típico “aqui podemos levar com um relâmpago aqui” ao clássico “este barco está a meter água e a afundar e há tubarões, é melhor pedirmos ajuda pelo rádio”. Não sei como as criam, se é em aviário ou redoma…. Claro que nem todas são assim. Não quero que a minha filha seja maria rapaz, só não quero que ela seja flor de estufa. Gostava muito que ela tivesse uma relação assertiva com a sua homeostasia, digamos assim.
Papa chili & Baby chili
Uma foto do jantar de hoje, com a receita. Esqueci-me de incluir o azeite, leva azeite, mas menos no baby chili.
Papa chili
aquecer azeite, juntar cebola e pimento picado, fritar um pouco até alourar, juntar piri piri, cominhos e alho. Juntar carne picada (400gr 2 pessoas) e fritar até ficar toda castanha, juntar tomate em pedaços, um pouco de concentrado, um caldo de carde (knorr) e 500 ml de água a ferver +-, um a colhe de sopa de farinha de milho, pimenta a gosto, deixar fervinhar 20 minutos, apurar, depois juntar uma lata de feijão encarnado 400gr, ajustar água, temperos, deixar mais 10-15 minutos. Servir com aquela espécie de doritos e com arroz branco.
Baby chili
aquecer azeite, pouco, frita cebola, mas pouco, não deixar queimar que é cancerígeno, não juntar alho que eles podem ficar todos malucos do estômago, uma pitada de cominhos, é indiferente, eles não precisam de temperos, pitada de sal, nada de caldos com gorduras hidrogenadas nojentas, passar BEM a carne, juntar um pouco de tomate sem pele, ou em pedaços em lata, juntar água, fervinhar, juntar feijão, aqueceu? já está, segue, chiliii. Se o feijão não estiver desfeito (recomendo feijão Compal, não se compara à marca Pingo Doce por exemplo) o bebé consegue pegar nele com as mãos e não chateia.
Atenção: não usem a mesma colher para misturar os dois tachos. Lição aprendida. Os bebés tem o mau hábito de esfregar os olhos sujos de molho de comida.
legalidade
Uma semana antes da demissão de Sócrates em 2011 aprovaram um diploma para aumentar os ajustes directos, em certos casos em 650 por cento. Justificação? “acompanhar os preços de mercado”. Tudo legal. Só a Lena teve 3 ajustes directos acima de 450 mil euros, e grande parte da facturação foi a Parque Escolar. Portanto, por exemplo, para directores gerais, a despesa sem concurso público passou de 100 mil para 750 mil euros. A uma semana da demissão, repito. Isto é legal, mesmo com a justificação de “aumento dos preços de mercado”. Num estalar de dedos. A lista de ‘legalidades’ como esta podia continuar, seja qual for a constituição da AR e é deprimente. Flash forward. Repuseram as subvenções vitalícias para os deputados. Nem mesmo a vergonha mais elementar impediu deputados de PSD e PS de votarem a favor. É crime? Não, tudo legal. Legalíssimo. Até me admira não reporem a imunidade parlamentar (no Brasil ainda vão nesse debate). Se um deles, dos que votaram a favor, for acusado de algo e sair tudo no Correio da Manhã, também me vão pedir para me preocupar com o detalhe da violação do segredo de justiça? Porquê? Pela sua honra? Pelo seu bom nome? Se ele não teve pruridos em destruir a sua honra e não demonstrou o mais elementar sentido ético ao votar a favor da subvenção vitalícia num contexto como o actual em que se cortam pensões, RSI e apoios sociais e se anunciam mais cortes…? Vou levantar o dedo e observar “cuidado com o segredo de justiça, não é justo destruir a honra desse cidadão”… Estão a brincar?
preventiva
Querida justiça portuguesa, estou apaixonado por ti e desculpa eu ter dito tanto mal de ti naquele processo a uma inquilina que deixou de pagar a renda 10 meses e a minha família perdeu o dobro do dinheiro com o advogado do que o que recebeu do acordo que teve de aceitar para evitar mais despesas. Desculpa ter confundido o Pinto Monteiro contigo. Isso foi uma fase, já passou. Mudaste. Tens feito muitos esforços ultimamente e tens-te superado, dia após dia. Desculpa ter reclamado tanto de te me terem roubado o Ford Escort de 98 três vezes no espaço de um ano, ao ponto de eu pensar que o meu carro estava referenciado como uma espécie de taxi para meliantes praticarem actividades ilícitas na zona de Santa Apolónia e a polícia encolher os ombros. Desculpa eu ter dito mal de ti quando a PSP me roubou o carro pela 4ª vez ao assumir que ele estava roubado porque da 3ª vez a GNR não avisou por fax que o carro tinha sido encontrado em Mem Martins e já estava na minha posse. Desculpa eu ter dito mal de ti no caso dos submarinos. Pensei que fosses simétrica à justiça alemã, mas sei que és latina, tens a tua personalidade, o teu feitio, e lá por os alemães considerarem que há corruptores do lado de lá (é assim que se diz?) não significa que do lado de cá nós sejamos desonestos como os alemães. Se calhar foi um problema de linguagem, tradução. Não te preocupes com o facto de parte do país estar preocupado com os media, fugas de justiça e com o tratamento a José Sócrates, pois pela tua nova postura recente, quero acreditar que farás o esforço e em breve haverá alguém de direita a lidar contigo e com as tuas fugas, mas alguém importante, mais que o Ricardo Salgado ou Isaltino, porque a esses julgamentos em praça pública eles não reagiram muito. Talvez o Cavaco Silva? O Paulo Portas? Tem de ser algo em grande, para que eles também possam ficar contentes e dizer que é bem feita e as pessoas de direita dizerem que é injusto o tratamento mediático e o julgamento em praça pública e assim todos ficarem felizes no fim zangados uns com os outros. Quase que me sinto na Finlândia, querida Justiça. Com muito amor, do teu cidadão, Lourenço.
a floresta a arder
nunca viram?
Desde que a Júlia nasceu que ando regularmente com ela no baby carrier. De momento o bicho pesa para cima de 10kg, não é fácil e em breve espero passá-la para as costas. Dá para ir de bicicleta ou para ir às compras na rua, apanhar um pouco de ar. É prático e divertido. Ela vai mesmo aninhada contra mim, protegida pelo meu próprio casaco. No verão em dias quentes, admito que é impensável, mas no inverno frio é como ter a minha botija de água quente privada. Excepto quando a botija mete as patinhas geladas dentro da minha camisa para se aquecer ou se pendura na gola.
Bom, mas isto para dizer que sou recebido com alguma surpresa em vários estabelecimentos ou a andar na rua. Claro que com muita simpatia, não me queixo, dá direito a borlas. Tenho sempre borlas, uma castanha extra, um pão de borla, um biscoito, as pessoas pensam que é para ela, mas eu é que como aquilo já fora da vista das pessoas. Mas às vezes passa-se das marcas. Ainda ontem um imbecil de um senhor ficou mesmo a apontar o dedo e a olhar para mim e puxou a manga à mulher para que visse. E isto comigo a vê-lo, com se não estivesse ali. Comentei o sucedido com A. que só me disse “agora sabes o que é fazer uma novela e andar na rua”.
Sócrates
Estou feliz. Até comprei champanhe. Estou feliz pelo que a justiça portuguesa tem demonstrado nos últimos tempos. Não defendo linchamentos. Na minha perspetiva de cidadão, Sócrates é corrupto, mas não tenho qualquer interferência na justiça. Sou parte da opinião pública. Onde há fumo, há fogo, e tendo em conta José Sócrates e o seu sinistro histórico, há hectares de floresta a arder. Hectares. Não me peçam para não ficar feliz e presumir a inocência do bicho, como se um processo destes nascesse de um sorteio aleatório de processos, hoje sou eu, amanhã és tu, depois é um ex-primeiro ministro… Epá, não me lixem. Quero confiar na PGR, nos investigadores que montaram a acusação, como confiei neles no caso de Ricardo Salgado ou dos Vistos Dourados. Confio neles. Podem argumentar que se deve a mudanças de ciclo político, ao colapso do BEs etc… precisamente É uma das vantagens da democracia. Precisamente.
serão
a invenção da mentira
Pedalo, com ela no babycarrier. Está frio, as mãos geladas aquecem-se dentro da gola da minha camisola (vou ficar com as camisolas todas alargadas na gola à custa disto). Do meu ângulo, só lhe vejo o capacete enorme e o queixo rechoncho. Está embalada e observa as coisas a passar. Costumamos ter diálogos nestes momentos.
Como é que faz o cão?
ão ão, diz ela com entusiasmo.
E o gato?
miauuu
Mas que miau tão bem feito. E o pato?
Quá quá
E o porco?
rrrronc rroonc
E a vaca?
muuuu
muu, pois é, a vaca faz muu. E a ovelha?
meeeh
E a girafa?
iiih (sem se descoser)
E o hipopótamo?
(hesita) mó.