o desvio

Quando Lisboa emerge assim soalheira, ainda que hesitante, de dias e dias de chuva negra, costumo sentir-me regenerado. Lembro-me sempre porque não aguentava um inverno inglês ou belga. Hoje, já mais repousado da menor carga de treinos (a maratona de Málaga está quase aí), não resisti, em vez de virar à direita depois de deixar a miúda na creche e fazer 7km de bicicleta até ao trabalho, fiz 16km. Descer da Belavista ao Parque das Nações por ciclovias semeadas de belas folhas outonais douradas, depois junto ao rio até ao terreiro do paço, com o sol nas trombas e o vento fresco, limpo, o ar lavado. Que deleite. Que privilégio. É minha, esta cidade. Café num quiosque de rua, subida ao Chiado… Tudo meu.

7 thoughts on “o desvio

  1. Sempre suspeitei que as pessoas sobrevalorizassem o peso que o clima/tempo tem na sua felicidade. Depois de vários invernos passados mais cá para o norte, hoje tenho a certeza. Nunca vi tanta gente a passear bebés na rua em pleno inverno como em Bruxelas, mesmo em dias de neve e graus negativos. Em Portugal ainda anda muita gente convencida que as gripes se apanham em correntes de ar e quando a temperatura desce abaixo dos 20 graus já está frio. O inverno não impede as pessoas de continuarem a fazer as suas vidas nestes países, há uma espécie de resiliência ao tempo que faz com que as pessoas encarem as agruras climatéricas muito melhor do que em Portugal, que tem um clima melhorzito mas que ainda assim estou para conhecer povo que se queixe mais do tempo do que os portugueses. Claro que dias de sol de vez em quando são benvindos mas isso também por aqui há. Não chove todos os dias. Isto para dizer que o tempo é só um dos fatores que influenciam o nosso bem-estar e não está tão altamente cotado quanto as pessoas julgam.

    1. também acho que tens razão quanto ao queixar do tempo, é uma coisa portuguesa, que começa logo no abafar das crianças como se estivessem no polo norte. Mesmo assim… treino corrida 4-5x por semana mesmo debaixo de chuva pesada, de madrugada, faço commute mesmo em dias extremos como têm sido estes, frios, chuvosos, tenho de levar 1 muda de roupa, chego ensopado ao trabalho e a casa, seco pés gelados com papel na casa de banho, todos me chamam maluco… e confesso que me pesa fortemente dias consecutivos sem um “olá” do sol, é tipo film noir. Não dava. Para a minha família belga também é, todos sonham em passar por cá a reforma e quando cá vêm não se calam com “a sorte que nós temos” e bebem sofregamente os raios de sol.

      1. Pois mas o meu ponto é mesmo esse: Portugal é fixe no verão quando está mesmo calor e sol quase todos os dias. Mas há certos invernos em que chove muito e passa-se quase ou tão mal como em certos invernos aqui para o norte. Diria que se passa pior, porque as construções em Portugal ainda são mal isoladas e passa-se frio dentro de casa.

    2. ah, é mesmo assim, muitos acham que sub 20 está frio. Já escri uns posts sobre isso no blogue de corrida, de como as marcas têm linhas de roupa desportiva de inverno que foram pensadas para sítios com invernos como Nova Iorque ou Paris, para correr com gelo, com temperaturas negativas, nevões, chuva gelada, mas que cá são usadas por altetas em dias em que 99% das vezes não se justifica. Aliás, basta chover para vermos os gorros, as luvas, os casacos desportivos, nos corredores e ciclistas, mesmo com temperaturas de 20 graus para cima.

      1. Sim, não entendo mesmo quando alguns amigos portugueses me dizem que só correm no verão porque no inverno está frio. Frio?! É quando se corre melhor! Eu corri em Portugal várias vezes este agosto e só pensava com saudades no fresquinho de Bruxelas e de como lá podia correr à hora que me apetecesse, que o calor nunca era preocupação. Correr no verão em Portugal sem ser ao início da noite/madrugada é tortura pura.

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