barnes

Estou irritado com o Julian Barnes, não sei quê da perda, booker prize não sei quantos. É fraco sendo muito bom, muito bem escrito Embora o autor o admita falando na Grande Literatura. Pois, porra, se sabes o que é Grande Literatura, porque não a tentas e falhas um Booker Prize ó Julian Barnes. Isto é só leve. Eu gosto de cenas estilo russas do século XIX, fome, suicídio, paixões cegas, guerras, revoluções, morte, sexo. Escreves muito bem mas gosto da minha literatura mal passada.

desculpem

queria pedir desculpa por ter colocado este post de corrida neste blogue, ofendendo assim a sensibilidade das pessoas indie que fumam e são sedentárias em nome do estilo que, naturalmente, nós que somos artistas e pessoas da cultura, cultivamos. Está tudo bem, está tudo bem, o meu outro eu é que é desinteressante.

Deixo-vos com uma música fixe que tem uma letra fixe e que seria ideal para acabar com um blogue para sempre. Fica aqui a sugestão e a tentação.

Lost in the valley of malls
The kids are all leading themselves
Living in capsules and balls
Thinking that there’s nowhere else at all

Flicking a match in the sky
Turning my back on my own
Finally the bottle’s bone dry
With a message inside
That says that I’m gone

I’m a dull boy with a dead dream
Searching for a pulse at any given scene
The city’s shrinking down
I think it’s time to leave this town
Pulling out while there’s still time
Littered all my memories behind

The statues […] that I’m having
Let them keep their […] clean
Whatever was now is in ashes
There isn’t anymore room here for me

Cause I’m a dull boy with a dead dream
Searching for a pulse at any given scene
The city’s shrinking down
I think it’s time to leave this town
Pulling out while there’s still time
Littered all my memories behind

The city’s shrinking down
I think it’s time to leave this town
Pulling out while there’s still time
Littered all my memories behind

resiliência

comi uma bifana ao balcão da cervejaria da minha rua.

Vi a minha cara no espelho por entre as garrafas de vat 69 e cutty sark. Estou com ar cansado, mas sorri-me. Carreguei na mostarda e pedi outra imperial. Comecei a ficar feliz e a descontrair de um episódio negro à saída do metro, dois putos estúpidos a meterem-se com outro que era gay. Cavalheirismo século XXI. Não temos donzelas em castelos em chamas atacados por dragões. Temos de nos contentar com miúdos altos e magros com cabeço pintado a serem perseguidos por betos estúpidos do século VI. Não consigo tirar da memória agora o facto dele estar magoado e quase a chorar. Que mundo de merda, às vezes, a sério… putos? É preciso copiarem os pais nisto?

Já me chamaram homofóbico porque sempre que vejo homens a beijar-se em filmes viro a cara ou escondo-me como se estivesse a ver um filme de terror. Não gosto de ver. Ao vivo, curiosamente, nunca me fez grande confusão porque posso olhar para os meus pés e continuar a dançar. Mas não num filme em que estou a olhar par a o ecrã concentrado. Nunca senti que isso fosse homofobia. Não gosto de ver leões a matar zebras naqueles documentários bbc. Mas gosto de leões e de zebras e acho que os leões devem poder comer zebras. Só que mudo de canal. E de resto posso ver filmes cheios de homossexuais como o Transformers.

E gosto de ver mulheres a beijarem-se. Não sei se isso conta para não-homofóbico. Já me disseram que não. Já me disseram que o facto de uma pessoa achar que há pretas muito boa, que costumam ter rabos fantásticos e ponderar como perfeitamente plausível namorar com uma não faz dessa pessoa não-racista, por isso não sei. Não entendo o mundo e os seus rótulos confusos.

Comi uns tremoços, mas voltei depressa para casa e ficaram muitos no prato. Só fiquei duas noites sem a minha filha. Mas as coisas agora não são tão más como foram. E o que desejo àquele puto magricelas alto é que tenha também resiliência, muita.

Resiliência ou resilência é um conceito oriundo da física, que se refere à propriedade de que são dotados alguns sub-materiais, de acumular energia, quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. – wikipedia

iphone 666

Pelos vistos as vendas esgotaram em Portugal rapidamente e há listas de espera. A minha famosa embirração com a Apple não tem motivos de geek PC ou Linux vs Mac. Nem se insere num leque de embirrações contra o consumismo, nem em generalizações do tipo “pois pois, estão em crise mas depois vão ver concertos de rock”. Aliás, é contra o iPhone. Eu gosto muito dos MacBooks por exemplo e do meu rico iPod Nano. Acho que é ética, a minha embirração. A Apple simboliza para mim o desperdício da inovação e do talento. E do design. E do tempo e dinheiro dos consumidores. Em vez de fazer melhor pelo mesmo preço ou igual e mais barato como sucede em qualquer outra categoria de que me lembre, a Apple nos smartphones faz a proeza pouco sofisticada de ir fazendo melhor e mais caro também. Este começa nos 699 euros(!) e vai aos 999 euros(!) Holly mother of God. Não sei quanto custava um iphone 1 ou 2, mas a cena disto esgotar nos lançamentos e haver listas de espera é que me parte todo – não o facto de ser caro ou existir em si, pois em todas as categorias, os preços vão do barato ao luxuoso. E isto sabendo-se que a categoria sofre uma deflação brutal: daqui a um ou dois anos haverá equivalentes a metade preço e aparecerá o iphone 7 ‘melhor’ que arruma este. Em certos casos chega a ser paradoxal o retrocesso, como foi do 5 para o 6 no critério tamanho. Ou como era famosa a ausência de autonomia das baterias: “temos um telemóvel espectacular, mas mantenha sempre perto de si corrente eléctrica”. Eu achava  piada a só nos chatearem com um iphone novo quando este fosse do tamanho de um relógio de pulso e uma pessoa carregasse num botão e ele projectasse um holograma interacivo. E com uma bateria que chegasse a durar 24 horas.  E que custasse 99 euros vá.

fome

Por entre Isaac Asimov, vou lendo o mais leve e portátil “O sentido do fim” de Julian Barnes. Não é mau. É muito bom. Mas ao mesmo tempo é daquela literatura que não é significativa. Podia não existir que a única coisa que não existia era o Julian Barnes e os seus livros. Felizmente, não pretende ser nada, é adulta, irónica, elegante, comovente, até lembra um pouco, acho eu, o Catcher in The Rye pelo menos na primeira parte, a adolescência, mas não tem o lado significativo deste, nem que seja por ser escrito agora e o outro há 300 mil anos. Eu gostava era de escrever uma coisa ao jeito do Fome do Knut Hamsun, mas precisava de uma boa miséria e não me posso dar esse luxo, tenho uma filha para nutrir e vestimentar e o equipamento de pesca não se compra sozinho.

não tenho nada para vestir

Finalmente percebi aquele cliché das mulheres do “não tenho nada para vestir“. A julgar pela minha filha, em poucas semanas, roupa e sapatos que servem perfeitamente a uma mulher deixam de lhe servir. Sempre a crescer ou a roupa a encolher, artifício dos fabricantes. E espalham as roupas todas em cima do trocador e ficam a olhar para aquele caleidoscópio de tecido em desespero. Porquê este comportamento em idade adulta? Porque já não têm um pai que pegue nelas e as enfie dentro de peças que sirvam, ao acaso, relativizando dessa forma a ditadura da imagem e das tendências. A minha filha até agora não tem qualquer complexo com o facto de chegar à escola em preparos que não traduzem a classe social a que pertence, isto é, a realeza.