Uma série de amigos condenam o meu modus operandi, digamos assim. A verdade é que sempre me foi indiferente se uma rapariga era ou não casada, se tinha ou não tinha namorado etc. e acho que eles sentem insegurança porque posso achar piada às namoradas, mulheres e mães deles. Mas não. Jesus, não. Mas namorado, namorada, mulher, marido, palavras. O que são palavras? são conceitos abstractos inventados. Somos macacos em árvores. Eu não levo a mal que uma namorada minha me troque por um macaco mais hábil. Aconteceu literalmente, uma vez, um angolano. Na universidade. Porreiro ainda por cima. Ficou-me com a V. Também não levava a mal que uma namorada me trocasse por mim. E depois? Ego, ego, ego. A humanidade é só ego e depois é guerras e fome e desgraças.
Month: Fevereiro 2015
online dating
Vou descrever com o maior detalhe possível um date online a que fui, penso que em 2007 se não estou em erro. Bem, tínhamos trocado umas mensagens, uns e-mails. Vi o perfil dela do facebook e pareceu-me bonita, embora nunca se saiba com essas coisas pelas fotos, fica aqui o aviso. Conversa para aqui, conversa para ali, combinámos e eu apliquei o meu circuito nº4 – turistic Lisbon drunk. Ela apareceu como combinado na rua augusta. Vinha bonita, quase mais bonita que nas fotos do facebook. O único objectivo do circuito nº4 touristic lisbon drunk é chegar ao jantar com ela já quente, começa numa esplanada e nos mojitos ou caipirinhas. Isso aconteceu. Mas exagerei, chegou já com os copos e tivémos de ir de braço dado só para que não se estatelasse na calçada da sé. Quando se sentou na mesa do restaurante estava pronta a dormir uma soneca. O empregado, velho conhecido, disse-me que tinha o vinho do costume e eu pedi uma garrafa. Olhei para ela, estava tonta e ria-se de qualquer piada que eu fizesse. Ria-se de qualquer coisa que acontecesse na sala. Lembro-me que se riu quando lhe pousaram o pãozinho com aquelas tesouras xpto. Começámos a falar de assuntos turn off, como problemas com os pais e mortes. Ficámos muito amigos, ela tinha muitos problemas em geral. Acho que quando chegou a sobremesa ela estava a chorar, mas não sei se estava chorar de rir ou de coisas de que se estava a lembrar. Bebemos duas garrafas, eu acho que bebi 1.5 e ela o resto. Quando saímos os dois do restaurante tentei lembrar-me do nome dela e não me lembrava. Não parava de me falar numa coisa que ela achava com muita convicção e eu dizia-lhe que sim, que tinha razão. Ficámos sentados num muro a ver a Graça, o tejo à noite, o clássico colar de pérolas da ponte 25. Um gato fugiu de nós num telhado. Rimos os dois. Demos uns beijos, só para não ser uma noite falhada, mas foi forçado. Bem, foi a última vez que a vi. Meti-a num taxi e fui para casa a pé e no outro dia tive uma ressaca monstra no escritório.
subject J23- diário de um sobrevivente
Se alguém está a ler estas linhas, pode significar que é tarde demais para mim. Tenho de ser rápido. A subject J23 está a dormir a sest… esperem… está, está a dormir a sesta. Tenho de ser rápido. Não posso usar o computador com ela acordada. Obriga-me a ver o video dos pandas a andar de escorrega vezes e vezes sem conta. Ontem vimos 15 vezes de seguida, . Estou quase a odiar pandas. Odiar pandas? O que é feito de mim? Meu Deus. A sala estava imaculada depois da empregada e bastaram cinco minutos com a subject J23 à solta para ficar igual às fotos dos apartamentos residenciais onde efectuaram experiências com os diabos da tansmânia com raiva, em 1984. A tv tem umas marcas estranhas no ecrã, como se tivesse sido vítima de garras de um monstro, mas na verdade deve ter feito aquilo com o comando do ar condicionado e com as caixas vazias dos CDs que estão espalhados no chão. Tem um prazer sádico em esventrar os caixotes de lego e espalhar o mais possível as peças na sala. Parece ignorar a própria cela que, curiosamente, é a maior divisão da casa. Percebi, pela experiência #54, que parece atraída para o local onde eu me encontre. É-me impossível trabalhar no laboratório, ela aproxima-se arrastando coisas pelo chão e pede colo e o video do panda. É uma pressão psicológica tremenda, nestes dias, estou à beira da ruptura. Entretém-se a chamar “paíi ó pai? paaaí pai pai pai pPaaaaíiiiee?” e quando lhe pergunto o que foi, diz coisas sem nexo e no fim diz “Sabias!? Sabias pai? Sabias?” e eu não sabia. O que é suposto saber? Que segredo esconde? Preciso de sair à rua comprar nutrimentos para ela e para mim. Há jogo do Benfica às 17h. É preferível, de acordo com o protocolo 42, que ela durma uma sesta antes de a expor na um ambiente não controlado como o do pingo doce. Tenho apesar de tudo um dever de responsabilidade para com a humanidade. Oiço qualquer coisa na cela da J23. Penso que é um caixote de legos que ficou perto demais da cama-jaula. Tenho de ir. Esta pode ser a minha última mensagem.
o que foi? não custa tentar.
a árvore de decisão
Algumas decisões apresentam-se de forma muito objectiva como fundamentais: mudar ou não mudar de emprego, emigrar, ficar, escolher um curso superior, ir a um encontro, pedir, dizer sim, dizer não, acabar, ter um filho, não ter um filho etc. Poderíamos ser tentados a pensar que são essas decisões que marcam o curso das nossas vidas, mas seria uma ilusão.
Estas decisões aparecem de forma pura no meio de um caos completo. Mas por cada uma que surge clara e definida, há uma multitude de decisões invisíveis opostas, um conjunto complementar gigante e custos de oportunidade astronómicos, infinitos, nas vidas alternativas que não levámos e que nos levariam a outras decisões.
Contudo, o passageiro que perde o avião só se apercebe da importância do atraso no trânsito se o avião que não apanhou desaparecer no Índico. Mas nem todos os aviões que perdemos desaparecem no Índico, logo, dificilmente temos a noção das consequências das coisas tão simples como perder um avião.
Não fiquem paralisados e com medo de apanhar aviões. Nem todas são assim. Há microdecisões inofensivas. Dentro de um conjunto de condições relativamente limitadas, temos algum grau de liberdade para decidir e não alterar nada de fundamental. Por exemplo, um serão sozinho em casa, pode ser passado a ver tv, ler um livro ou jogar Ps3 e nenhuma destas 3 coisas alterará o futuro de forma determinante. Também existe o chamado destino dentro de um certo grau de liberdade. Por exemplo, um jogador viciado no casino, poderá decidir não jogar hoje e amanhã, por um rasgo de consciência, ou jogar e ganhar dinheiro dias a fio, mas está escrito que vai perder tudo um dia.
head on
Rendi-me aos títulos de posts em inglês, agora não quero outra coisa. Fica mais fixe. Fuck it. Fuck it!
Quero deixar esta mensagem a alguém que se sinta sozinho neste momento, desesperado. Deixo algumas tags neste post para virem cá parar em searches no google.
Não te preocupes. Vai ficar tudo bem. No limite, pensa que há pessoas que vivem na rua e nem todas são infelizes. Eu vejo-as todos os dias deitadas na grelha do ventilador do Metro na praça da figueira, de manhã cedo e à noite, como arenques a fumar. Sai ar quentinho daquela grelha. Havias de os ver, parece que estão num jacuzzi, os cabrões, e eu e tu ao frio, cheios de preocupações, a caminho das nossas casas que custam uma fortuna a manter quentes. Ainda este ano foram 6 mil euros em janelas térmicas e são uns 70 euros em electricidade no inverno. Pensa que há ricos infelizes, alguns. Um ou outro. Por umas horas. Não penses nisso. Pensa antes que há quem encontre o amor e seja muito feliz, mas um dia tem uma desilusão horrível e fica pior do que tu estás agora.
Mas tu não corres esse risco porque estás sozinho e ninguém gosta de ti e o mais certo é nunca virem a gostar mesmo a sério, só os que se enganam e pensam que és outra coisa. Se pensarem, aproveita, engana-os, mas não te enganes a ti próprio. Ninguém precisa de saber a verdade. Eles também estão a fingir, provavelmente e estão quase tão tristes como tu. Não deixes que te afectem! O truque é traçares uma linha no chão. O que está para lá, não te atinge. Essa linha mexe-se. O que fica para lá dela és tu que decides. Se te ameaçam, zuca, recua a linha e já não vale. Podes sempre recuar a linha até ser uma silhueta de ti desenhada a giz pela polícia. Vai cheirar flores. Há umas que não cheiram a nada, aviso-te já. Não sei distingui-las. E cuidado, se fores alérgico ao pólen, vais sentir-te pior do que estavas, mais deprimido ainda. Cerveja, muita vitamina C e vai fingir que gostas de ver futebol e que te importas com isso. Se não sabes viver, então vê filmes, vê pessoas, e imita a vida. Qualquer pessoa sabe fazer isso!
🙂