A culpa é dos meus pais. Durmam bem.
Month: Junho 2015
inanimate sensation
Leave your trace
Curioso, tiramos dezenas de fotos inúteis, depois o sol finalmente põe-se e as luzes acendem. Cada vez gosto mais da noite em Lisboa, especialmente em dias tórridos como o de hoje. Aquele vento fresco que dá para abrir as janelas. Fui pedalar até aqui.
Cerca de meia hora antes, um rapaz de etnia genéticamente propícia a doses extremas de melanina na pele (não sei qual o termo politicamente correcto para preto hoje dia) aproximou-se e eu com o meu equipamento tive um laivo de racismo, fiquei tenso. É difícil perder hábitos de rapaz da província onde os únicos pretos que víamos era no prince de bel air. Revi mentalmente golpes de jiu-jitsu. Ele aproxima-se e diz-me que do outro lado da ponte havia uma cobra ali, apontou, que um senhor ia a correr e avisou-o e que ele acabara de a ver e era bem grande. Ok, simpático. Senti-me mentalmente envergonhado.
para a Anna Blue que tinha razão
Ilegal?
Não, até tenho amigos que trabalham aqui. É só uma piada. E obrigado por patrocinarem a construção desta ponte que até vibra desalmadamente sempre que alguém corre nela.
A cobra estava mais ou menos ali ao fundo…. *glup*
não consigo voar
filha,
passámos uma semana inteira juntos e como ficámos doentes, estivemos também 2 dias extra em casa, mais um fim de semana de praia. Foram muitas horas juntos e que incluíram mesmo metade de uma noite em que dormiste ao meu lado por eu ter tido um pesadelo e não querer dormir sozinho.
De modo que na segunda feira quando te depositei na creche, tu não me largaste e fartaste-te de berrar a querer o papá, e que eu ficasse na creche contigo, algo que nunca fizeste antes. Sim, já houve um tempo em que não te tinha de deixar a 200 metros da escola porque o nosso tandem não é cool.
Pedalei dali para fora com uma lágrima quase a cair, parecia que te estava a deixar no canil, eu que nem chorei quando a Grécia saiu do euro em 2015, mesmo antes da III Guerra Mundial que presumo que ainda decorra quando leres isto à luz de velas no abrigo que o papá deu ordens para começar a construir no Baleal quando Bruno de Carvalho foi eleito primeiro ministro de Portugal em 2021, à frente do Livre.
Passado um bocado senti um enorme alívio porque tu também me dás um trabalho do caraças e às vezes fico tonto com as cenas a acontecer ao mesmo tempo e a velocidade exponencial com que a casa fica desarrumada.
Para memória futura:
Com 20 meses, concentras-te muito, fechas as mãos, depois relaxas e dizes, desanimada: “não conshigo voar :(” Fazes mesmo um ar triste ou desiludido por não conseguir voar.
Quando te estava a secar depois do banho perguntei, como de costume “quem é o bebé mais barrigudo de sempre, és tu? ” ou algo do género e tu disseste “Não.” assertivamente. E perguntei-te “não és o bebé?” e disseste muito séria “Não.” Então quem é que tu és? E tu: “Eu sou a Júlia.”
Começaste a dormir só com cão. Depois o urso rosa. Depois querias o ursinho castanho também. Entretanto junta-se a raposa bebé, a raposa grande, o ouriço, o peixe e começa a faltar espaço na cama de grades. Sempre que fecho a porta do quarto ficas a conferenciar uns 15 minutos com eles.
Há dias entrei na sala e assustei-me com o cenário. Pegaste no livro do Churchill, começaste a folhear e a fingir que estavas a ler em voz alta. Fizeste isso uns bons cinco minutos.
Não sei se acho engraçado, acho que estás a gozar comigo. E para que conste, eu não leio em voz alta nem faço essas caras.
Fiz uma experiência no sábado, num dia de praia invernoso. Queria ver até que ponto entravas em hipotermia em nome da diversão, porque já foram 2x que te salvei de uma poça de água do mar para ser recompensado com a maior birra de sempre, misturada com ranho e areia e ventos ciclónicos. De modo que desta vez na piscina insuflável do pátio do bungallow mantive-me firme, bebendo uma cerveja e comendo umas bolachas, bem encasacado e seco. “Não tens frio, filha?” “N…ão…pp ppp apá” Por fim pediste ajuda e aceitaste os termos do acordo: acabou-se o banho e vens para dentro. Poucos minutos depois com o aquecedor nos 2000w a 50cm, recuperaste. Temos método: congelar e descongelar-te. Zero birras.
Estavas numa poça na praia comigo, os dois a fazermos o castelo de pedrinhas e nisto vem um puto moreno, devia ter 3 ou 4 anos, a correr, saltou para dentro da nossa poça de água, destruindo a muralha a oeste e sem mais pegou no teu balde. Tu ainda disseste “é o meu balde” muito chocada e o menino ia-se embora com o balde se não fosse eu ter agarrado o balde com vontade de lhe espetar uma galheta com a outra mão livre. Apareceu o pai, peludo e atarracado, nem pediu desculpa, pegou no filho e largou-o de novo. O filho desatou a correr, agarrou numa bola de outras crianças e o pai teve de novo correr atrás dele para devolver a bola, tudo isto sem uma única reprimenda séria do género “não podes tirar a bola aos meninos” ou “não podes invadir a poça de outro menino assim e tirar-lhe o balde, tens de pedir por favor”. Tu ficaste a olhar para ele e para mim, muito espantada, meio em choque. Agora sabes o que é um comunista, filha.
Estás agora a começar a ser meio paternalista para mim. Às vezes acabas de comer e apontas para o meu prato e dizes “o papá gosta de esparguete não gosta?” e eu “s… sim, gosto” e tu fazes uma festa no meu braço e dizes “o papá vai comer o esparguete todo, não vai? Come papá, come o esparguete. Muito bem. O papá gosta muito do esparguete.”
segunda feira
gone girl
Sempre em cima do acontecimento, vi o filme em dois dias, adormeci no primeiro visionamento. Yey para mim.
Ok, safou-se bem a partir de metade para a frente. Não é nada de extraordinário, mas não é um filme banal. Em certos segmentos, especialmente na primeira parte, achei- forçado, quase a roçar o Amelie Poulin meets Irmãos Coen, com as vozes off e a explicação de tudo. Odeio filmes que metem voz off e música e segmentos que dão a impressão do filme estar sempre na introdução e o mesmo nunca aterrar no agora. Não odeiam? Claro que não, vocês gostam é de Nilton. Era demasiado esquemática, a primeira parte devia ter sido mais natural e subtil, mais realista, e a pouco e pouco afunilar na maluqueira. Gostei de voltar a ver o Fincher do meu Fincher preferido: O Jogo. MAs se tiverem algo melhor para fazer, façam essa coisa.
Isto foi a minha crítica muito aprofundada. Espero que tenham gostado.
Nem todos podem ser este filme, isto para falar de casamentos e biolência.
debaixo das estrelas
Gostei muito dos testes que fiz nas fotos à noite, exposições longas, tripé, enquanto a minha filha dormia no bungallow. Tiramos a foto e demora tempo (20 segundos no caso desta), quando espreitamos não se vê praticamente nada e é um pouco por tentativa erro, pequenos ajustes, depois quando é finalmente “revelada” aparece uma imagem que não se via a olho nu e que tem tons um pouco surreais, pois as luzes dos candeeiros e janelas de casas espalham-se e dão geometrias e volumes diferentes da habitual luz solar.
Antes fomos os dois ver o por do sol a meio da baía do Baleal, fustigados por um vento gelado. Coitada da minha filha, sofreu bastante e nem mesmo a promessa de muitas bolachas a ajudou a encarar bem disposta o vento e o tédio de esperar pelo momento.
Lá chegados, o ângulo era mau, as berlengas estavam atrás do cabo carvoeiro, a maré estava cheia, não havia nuvens nesse momento e o por do sol, já de si o cliché fotográfico nº1, não teve piada nenhuma.
Gostei mais do caminho de volta, pelas dunas, até à Lua.
arco íris
Parabéns, os homossexuais americanos podem agora casar. Confesso que pela festa toda que vejo, começo a desconfiar que o casamento pode ser uma coisa boa e me está a escapar algo. Mas por que raio alguém havia de querer casar? Não sei. Quer dizer sei, já estive para me casar, quando era mais novo, achava mesmo que queria (ao fim de 2-3 meses de namoro, claro) e afinal, coiso. Ainda acho que o casamento deve ser assim, 2-3 meses, pau, tumba, maluqueira, vamos casar? Vamos. Ou é uma decisão maluca ou não é romântica e se não é romântica, francamente, sejamos racionais. E se sejamos racionais (para falar à Jorge Jesus) então não casamos. Não é? Quando vejo casais que namoram há mais de 3-4 anos a casar, o termo que me ocorre é cansaço ou tédio ou não saber bem o que fazer à vida ou então “não arranjo melhor, que se foda”.
Fico feliz por os homosseuxais também poderem ter discussões conjugais a sério e divórcios litigiosos daqueles que metem advogados e guerras sanguinárias, o cão. Se juntarem a isso adopção – também não vejo qualquer impedimento, por mim, força nisso – ganharam o direito a guerras pela custódia.
Estão prontos para ter vidas tão miseráveis como o resto da humanidade, a americana e não só. Bem vindos, se isso vos faz feliz. Eu fico feliz. Eu acho que as pessoas devem ter direito a casar, mas eu também acho que as pessoas devem ter direito à eutanásia ou a consumir heroína se assim o entenderem. Felizmente é só a legalização do casamento, não a obrigatoriedade do casamento, isso é que seria mau. Fostes-lhe ao cu? Fizestes-lhe o minete? Agora tens de casar que te lixas. Já houve tempos em que para nós, os heterossexuais, a vida foi assim. Foi muito duro.