Month: Julho 2015
não gostos
Escolhemos não-gostar de coisas. Nem vou para artes e desporto. No plano da comida é tudo mais claro. Há pessoas que tendem a não-gostar de coisas, de muitas coisas, do ramo alimentar. Não gostam de queijo. Ou de cerveja. Mas quem é que não gosta de queijo ou cerveja? E pensam que é subjectivo. Não é. Estão errados. Existe um eixo de complexidade de sabores, no extremo básico estão os doces, o sabor a açúcar. Não há mérito nenhum em gostar de um torrão de açúcar ou de nutella ou de um chocolate de leite com pasta a imitar cacau. No extremo dos sabores que fazem a vida valer a pena estão coisas como um queijo azul ou um vinho do porto velho ou chocolate negro puro. Nem todos temos de gostar das mesmas coisas, dizem-me. Eu fico pasmado com isto. Acho quando não-gostamos estamos a perder. Os meus não-gostos a nível de comidas por exemplo, são sempre um reconhecer de uma derrota. Depois há as coisas que nem experimento, como carne de cavalo, mas por razões estúpidas, como gostar de cavalos. É uma escolha não gostar. Eu escolho não fazer um esforço para gostar de ópera ou perceber de jazz. Tenho mais que fazer. Não conheço ópera. Não vi ópera. Contudo, se gostasse de uma rapariga que gostasse de ópera e me quisesse mostrar ópera, era pessoa para aprender sobre ópera e ver ópera e não tenho qualquer dúvida de que gostaria de ópera. E que dentro da ópera haveria algumas que eu iria preferir ou que eram mais bem encenadas ou sei lá que raio são as coisas que mudam numa ópera. Por isso é uma escolha não gostar, não podemos aprender tudo, infelizmente. Mas não acho que os “não-gostos” sejam uma emanação de um eu muito sólido, como se estivesse escrito no ADN que pessoa A não gosta de futebol e pessoa B não suporta queijo e isso fosse uma inevitabilidade, um traço de carácter que o define e torna original. O único traço que sobressai é falta de curiosidade, preconceito etc. Não se pode ser muito assertivo nos não-gostos de coisas como queijos, como se um não-gosto fosse o negativo de um gosto. Não é. Quem não gosta de queijo ou vinho deve ter vergonha, como alguém que diz que não gosta de ler ou ouvir música. Tenho dito.
francesas a ler livros
Sempre tive desprezo pela nouvelle vague, mas também algum ressentimento, pois foi responsável por eu ter idealizado mulheres intelectualmente atentas às coisas, com o pequeno detalhe de terem de rivalizar com o aspecto da Brigide Bardot, Jean Seberg, Françoise Hardy ou Anna Karina que, por acaso, até são 4 das 5 mulheres mais bonitas que já pisaram o planeta.
São filmes que se levam muito a sério e por isso devem ser evitados, mas eu vi-os quando era impressionável e os aspectos crípticos, o “que merda é esta?”, confundia-o com “wow, isto é profundo”. Não sei se não quis ser escritor porque via nos filmes o fascínio que este tipo de mulheres deste tipo de cinema tem para com o objecto livro, mesmo que, por culpa da teatralidade da nouvelle vague, nestes filmes mulheres aparentassem ter para com o livro uma relação tão natural como por um berbequim de 1200w ligado.
Hoje já não me choca tanto a presunção intelectual deste tipo de filmes com diálogos vagos e argumentos pantanosos. São uma coisa estética, mas um bocado conservadora e mesmo chauvinista, apesar da camada de estilo. Comparo com as revoluções anglosaxónicas como a do glam rock ou penso no psychobilly dos Cramps, que estou a ouvir agora, onde a Poison Ivy é um pilar de força apesar de hiper sexualizada, e o Lux é uma extensão do Iggy Pop, em versão submissa à deusa fêmea, nem que tenha de usar sapatos de salto alto e lantejoula. E isso nasce do subúrbio atrasado americano, misturar o apócrifo, a mistura de géneros, o terror, o sexo, tudo embrulhado num enorme fuck normality que, ao mesmo tempo, não é autoconsciente e continua com níveis sérios de ironia e com um mero propósito: rock. E roll. O que nasce da nouvelle vague é isto, a bardot numa banheira a ler Pedro Chagas Freitas ou Sartre (é a mesma merda) e um gajo bruto, que naturalmente não a entende, a compor a roupa depois de lhe dar uma.
Sim, já sei, aparece Lang na capa, deve ser Fritz Lang, o cineasta, que tal para meta referência subtil? Foda-se.Mas posto isto, há coisa mais bonita que ver uma mulher a ler um livro, a mexer a boca enquanto lê, para formar as palavras, a parar a cada parágrafo, fascinada com a sabedoria do autor?Aqui François Hardy lê a coluna de opinião do Pacheco Pereira e concorda.
poison ivy
o meu problema
O meu problema com a escrita é o mesmo que com outras coisas, como as relações e assim. Gosto demasiado das primeiras páginas e hipóteses, mais do que perder tempo no longo prazo a aperfeiçoar algo. Assim que se desenha a previsão polinomial, linear, exponencial, logarítmica, média móvel, do futuro, vejo essa imagem agora instintivamente e considero esse um caminho previsível, com pouca margem de surpresa e descoberta. Como alguém que só meteu 3 ou 4 peças de um puzzle mas desiste de o fazer porque a foto do puzzle está na capa da caixa e já descobriu uma boa heurística para separar e procurar peças (formas, cores etc.). Por exemplo, pediram-me um determinado trabalho, fiz umas 10 páginas e vi o que ia acontecer e não gostei particularmente e agora estou entalado porque disse que sim. Acontece raramente – mas acontece – esse caminho ser suficientemente aliciante para o achar merecedor de existir no plano real. A maior parte das vezes satisfaz-me o poderia ter sido e não preciso de perder mais tempo, nem o dos outros. Nem sei porque chamei a este post “o meu problema”, não o acho um problema, a não ser quando expectativas de outros dependem de mim. É como se me permitisse existir em planos paralelos, múltiplos. No futuro, as pessoas vão resolver todos os conflitos assim, instantaneamente, e só se vão mexer para o que importa.
da série I <3 chicks with brains
Uma crítica literária profunda ao embuste ‘A Morte do Pai’, Karl Ove Knausgård
(a respeito do Ikea Knausgard, só lhe li uma entrevista, uma crítica e bastou)
Anna Karenina
Já leram? Eu sei que sim. Ainda aqui há tempos houve uma febre do livro nos blogues, não foi?
Bem, eu estou a ler e é bom. Ficam a saber por mim, em primeira mão, que é bom, ó humanidade. Tolstoi. Rico escritor, este.O post é sobretudo dirigido os homens que, como eu, recusavam ser vistos com tal livro nas mãos ou perder tempo com ele por parecer efeminado. Não tenham vergonha ou medo de ler um livro com nome de gaja. Não é um livro de gaja, é um livro bom. O título é o pior de sempre, sim. O Madame Bovary por exemplo é mau que chegue, mas não tão mau. Anna Karenina é uma cena tipo “anita em são petesburgo”. E não é. É mais ou menos. Não é uma telenovel… é mais ou menos. Mas em bom. Depois escrevo algo mais sólido sobre isto tudo.
diálogos mais ou menos reais ou porque é prematuro ter certas conversas com uma coisa de dois anos
– Papá, olha a lua! A lua papá, olha a Lua! A lua já acordou.
– Já acordou. Dorme de dia?
– Shim.
– Sabes o que é a lua?
– É uma bola.
– Muito bem, lembras-te. Ontem o pai explicou-te que a lua é uma bola. Mas é uma bola muito grande, mais de 3000 quilómetros de largura.
– Papá, um cão!
– Um cão, pois é 3000 quilómetros para teres uma ideia, são quase 3000 viagens de ida à creche e…
– Papá, não pode voar à lua muito longe.
– O que é que isso quer dizer?
– …
– Ok. Sim. Não. Mas o homem já voou até à lua. Num foguetão.
– O papagaio que o papá vai dar vai voar no baleal.
– O que é que isso tem a v… Sim, mas o fio do papagaio não chega a lua.
– Não conshigo voar.
– Pois não, não és um pássaro, mas com o papagaio podes.
– Gato! Um gato!
sim, se nos despacharmos antes da grande quantidade de álcool deixar de fazer efeito!
As mulheres podem ter orgasmos enquanto dormem? – Observador