para além do estritamente necessário

Mas isso porque tem a confiança de que não foi castradora com ela como a sua mãe foi consigo?
Não, se calhar fui castradora, não sei,. Acho que em Portugal fazem muita falta memórias e autobiografias, em Portugal e nos países latinos não temos essa tradição, porque a Igreja Católica, por um lado, não gosta destas coisas. Nos países católicos pode ser-se hipócrita no que se quiser, até os operários podem pôr os palitos à mulher, podem-se fazer abortos todos os dias e depois dizer que se é contra o aborto, dizer-se que se é a favor da escola pública e depois pôr os filhos numa privada, isso é típico dos países latinos. Os portugueses, sendo pobres, dão imensa importância ao parecer, detestam parecer ridículos. A excentricidade é polida. Alguns amigos meus, com 70 anos como eu, dizem “ah, és tão excêntrica”. Não, não sou excêntrica, sou como sou, não escrevi num papel ‘quando for crescida vou ser excêntrica’. Quero levar a minha vida como quero e não quero que me macem para além do estritamente necessário.

Maria Filomena Mónica, ao i

27 thoughts on “para além do estritamente necessário

      1. Este, por exemplo, está a rir-se demais, assim com a boca toda aberta. Devia estar só a mostrar os dentes.

  1. Gosto muito dessa última frase. É interessante esta resposta, e é interessante a entrevista. Fez-me pensar naquilo que escreveste sobre o Karl Ove no outro dia, sobre o que é que vale a pena revelar.

    1. Sim, também pensei no mesmo, mas aqui, talvez por ser num contexto de biografia… Não sei. Pelo que me contaram, ela foi má para o Vasco Pulido Valente, por exemplo. Não se faz.

  2. “Os portugueses, sendo pobres, dão imensa importância ao parecer, detestam parecer ridículos.” – adoro os portugueses que generalizam sobre os portugueses mas se excluem da generalização.

      1. E bem podes fazê-lo, ó estrangeiro! Havias era de ir para a tua terra! 🙂 (fazia falta um smiley com dentes podres)

  3. “Nos países católicos pode ser-se hipócrita no que se quiser, até os operários podem pôr os palitos à mulher, podem-se fazer abortos todos os dias e depois dizer que se é contra o aborto, dizer-se que se é a favor da escola pública e depois pôr os filhos numa privada, isso é típico dos países latinos.”

    Uma frase tão estúpida no meio de uma resposta que, na sua globalidade, até tem algum interesse. No fundo, “as marias filomenas mónicas” deste mundo são um pouco isto, sentem-se obrigadas a dizer merdas atrás de merdas e depois, olha, pronto pá, são excêntricas.

    1. Não acho estúpido enquanto generalização. Compare-se com a obsessão protestante para com a transparência, as casas com grandes janelas em que se pode ver toda gente lá dentro. Acho muito acertado até e não sei o que é pior.

      1. Vá lá, admite: é um bom bocado estúpido. Nada, na frase, faz qualquer sentido. Claro, é uma entrevista, transcrição (supomos) de discurso oral – mas não tem ponta por onde se lhe pegue. “Nos países católicos pode ser-se hipócrita no que se quiser” – basta ficar por aqui, sem entrar nos exemplos tão infelizes que a senhora elenca. O que é um “país católico”? E porque é que nos países “não católicos”, infere-se, não se pode ser hipócrita no que se quiser? Como se faz a gradação da hipocrisia e como se determina qual a influência que a religião maioritária exerce para a sua maior ou menor ocorrência? E como se valoram as ‘excepções’, ou seja: em que escala de hipocrisia colocaríamos os protestantes, muçulmanos, hindus, budistas, animistas, ateus e outros que residem no que, informa-nos a senhora, é um país “católico”? Espero que concordes que tudo isto é tanto mais absurdo e infeliz quando vem da boca de uma pessoa com créditos firmados nas ciências sociais.

      2. Tu és um homem viajado. Conheces bem a cultura oriental por exemplo. Assumir que a religião de um povo (ou falta dela) não tem qualquer correlação com a relação deste para com princípios, incluindo a relação com a verdade , hipocrisia, é um pouco absurdo. “O que é um país católico” ou latino… bom se vamos começar na maluqueira completa, já sabes que eu me retiro do debate. Portugal, Espanha, Itália, são católicos. Holanda, Alemanha, maioritariamente protestantes, etc. E há diferenças. O traço cultural latino católico está muito bem apanhado nos Sopranos, a dualidade das aparências vs o que se é. O criador da série, o extraordinário David Chase, diz que a base de todos os diálogos era dizer o oposto do que se era ou pensava. É a própria Maria Filomena Mónica que o diz e com toda a razão: não existe tradição de biografia despojada por cá. Eu ainda pasmo com fenómenos como o “morreu vítima de doença prolongada” para não se dizer cancro. E ainda há dias escrevi um logo “rant” sobre a paranóia que os portugueses têm com a história das totos das crianças nas redes sociais (vs 97% das mães americanas que não têm problema com isso). Podia continuar. Queres falar da confissão? Do “católico não praticante”? Do machismo em Portugal?

      3. Quero falar, sim senhor. Pena que agora o tempo seja escasso. Não nego a influência da tradição cultural judaico-cristã na forma(ta)ção de quem vive em Portugal. Mas acho que pões a questão em termos redutores. Os gregos, por exemplo, são ortodoxos: isso faz-lhes cair o pé para a hipocrisia ou nem por isso? Seja como for, deverá ser pelo que escreves, em medida exactamente igual à de qualquer outro “país ortodoxo”, pelo que será justo falar de “países ortodoxos como a Grécia e a Rússia” – duas gotas de água, no que toca à sua cultura. Ou seja: em que medida um cisma de 500 anos molda efectivamente a cultura? Esse ‘pendor latino para a hipocrisia’ – que eu não vejo provado; acho que a hipocrisia é um traço universal – seria então mais ‘latino’ ou mais ‘católico’? França e Bélgica ficariam de que lado, na divisão? E, a prevalecer o catolicismo, teríamos então uma cambada de hipócritas na República da Irlanda e uns exibicionistas transparentes na Irlanda do Norte?

      4. Eu percebo muito bem porque é que gostaste do remate final, naquela resposta. Eu gosto menos, até por já ter passado pelo tormento de ter tentado ler a biografia da dita entrevistada – e sou da opinião que francamente NÃO precisamos de memórias ou autobiografias daquelas (poderia, na melhor das hipóteses, ser utilizada em escolas de pendor marxista para instilar nas crianças o ódio à burguesia). Independentemente disso, o que está em causa, parece-me, é uma passagem manipuladora, maniqueísta, dispersa e que me faz lembrar as conversas de pessoas sentadas no café a dizer que isto está mal porque ninguém quer trabalhar – ou as tiradas de pessoas a lamentar que hoje em dia ninguém queira ser canalizador ou carpinteiro enquanto assinam o cheque das propinas para o curso de gestão do mais novinho.

      5. Está bem, assim está melhor, mas mesmo assim continuo a achar que o traço católico latino sugere muito uma duplicidade e fachada e que o protestante é o oposto. no protestante a redenção é pública, por isso é que tens um presidente a ter de admitir que teve sexo ou não teve sexo com a estagiária e é imperdoável e assim e assado.

  4. Achei o tom da entrevista pedante. Essa mania de engavetar o Mundo e as pessoas à direita ou à esquerda, católicas ou não católicas, não difere muito da técnica que o meu avô utiliza há anos: quando fala de alguém começa por dizer “o gajo x, do sporting, disse” ou “o gajo y, do benfica, disse”. E ele não escreve livros, fará se fosse uma pessoa muito culta.

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