o sistema

Uma das coisas curiosas que me dizem é que “eu tenho medo de comunistas” só porque os pêlos dos meus braços se eriçam tipo gato em alcatifa quando oiço “por uma política patriótica de esquerda”.

O problema são as condições do sistema e o resultado do comunismo, não são as pessoas serem más pessoas. Eu não tenho medo “dos comunistas”. Eu tenho amigos comunistas, eu conheci comunistas simpáticos e com menos de 60 anos, eu acho o Jerónimo de Sousa bem intencionado e honesto.

Também acho idiota assumir que os nazis eram “más pessoas”. De repente uma nação de psicopatas extremistas? Uma geração de doidos? Não acredito e as entrevistas aos tipos em Nuremberga comprovam-no. Grande parte é algo hipócrita e outra parte estava genuinamente convencida de estar a fazer algo de bom e nunca pensou muito no assunto e falo de 2ªs e 3ªs linhas de Hitler, imagino ao nível do soldado de uma SS a executar civis.

O preocupante é ver que pessoas normais podem ser nazis e ver como todas as experiências que se fazem nesse campo demonstram que muitas pessoas podem tornar-se altamente frias e crueis com um sistema que dê os estímulos e as recompensas adequadas para isso. Esse é o alerta.

O meu ódio ao comunismo não é diferente do meu ódio ao fascismo ou a outras formas de extremismo, porque criam as condições para essa opressão de uma forma quase matemática. Quando me dizem “o PCP por cá podia não ser como a URSS, a China, Cuba, Coreia do Norte” etc. é o mesmo que alguém me dizer que se os neonazis portugueses até mereciam uma oportunidade porque  aquilo na alemanha correu mal. Como se não fosse algo intrínseco às ideias em si.

Por exemplo, para vocês, boas pessoas, o facto do Bloco de Esquerda propor um cabaz de peixe em que se mete lá fanecas e outras espécies de menor valor comercial, para oferecer aos portugueses um cabaz mais sustentável nutritivo e ecológico não é muito grave. Que o Governo decida pelos pescadores, peixeiras e portugueses a constituição ideal de um cabaz de peixe regulado, parece só uma piada.

Eu vejo nisso o princípio de uma coisa muito má. Começa por alguém no Bloco de Esquerda achar que não só compreende as dinâmicas do mundo em que vive, como que lhe compete substituir-se a esse equilíbrio e determinar o resultado com um racionalismo extremo. Daqui vamos para coisas como a”ocupação do território” em que, como sugeriu Catarina Martins a propósito dos médicos, lhes fossem dados incentivos não monetários para que fossem ser médicos na santa terrinha que o estado lhes propõe, mas podíamos ir para a mentalidade de António Costa que encaminharia refugiados para uma zona do país para trabalhar na agricultura.

Esta forma de pensar, obviamente, tem gradações, mas resulta inevitavelmente em opressão das liberdades individuais e em sistemas que no fim são piores, geram menos bem estar para todos.

Comigo, isso não passa em claro. E é por isso que sim, tenho medo do comunismo como do fascismo, mas não diabolizo as pessoas que acreditam neles, muitas vezes porque estão imbuídas de um sentimento de revolta, de luta, de ética. O paradoxo é que às vezes quanto mais convencidas estão de serem boas pessoas e estarem do lado do bem, mais perigosas se tornam.

7 thoughts on “o sistema

  1. Não vou contra-argumentar com a tua descrição do sistema. Dá trabalho e não tenho tempo. Mas esta ideia que tu vais repetindo ao longo dos meses faz-me alguma espécie: “mas resulta inevitavelmente em opressão das liberdades individuais”. Isto não configurará um caso de quereres oprimir a liberdade individual de ceder alguma dessa liberdade individual em favor de um qualquer projecto? Ou seja, como é que o teu liberalismo utópico de “each man is an island” se poderia preservar, de forma não-totalitarista, da eventualidade de existir um grupo substancial, talvez maioritário, que acreditasse que “together we are a continent”?

    1. Ainda bem que és uma pessoa ocupada. Mas não, o meu sistema o que tem mais é cooperação voluntária e a nível global. Pegas em qualquer coisa que quiseres e aquilo é uma misturada extrema de origens e cooperações, desde a matéria prima, a ideia, o fabrico, a montagem, não há quase nada hoje em dia que não envolva uma cooperação global voluntária. As pessoas escolhem cooperar, desde o condomínio do prédio para se porem de acordo sobre o telhado novo, a terem regras de trânsito com semáforos para não se matarem uns aos outros, a partilharem custos de saúde, educação etc. seja em privado (ex: seguro automóvel, de vida, de saúde) seja no público (impostos). Mas não entendes a diferença abissal que é ter um estado que decide como é que as pessoas abdicam dessa liberdade individual e impõe a sua visão racional? E se o Estado, bem intencionado, decide como eu vi uma do Bloco toda histérica a sugerir, que as telenovelas são ideologicamente enviesadas, porque as crianças andam em colégios? Queres mesmo viver num mundo em que a Catarina Martins visiona telenovelas de estações privadas e aprova os conteúdos das mesmas do ponto de vista político e ideológico? É que isto é o princípio. Vocês podem ser pouco sensíveis a esta forma de pensar, eu sou. Sei que a Catarina Martins e muitos outros até querem encharcar o povo de cultura, mas está-se mesmo a ver o resultado final não está?

      1. Não, rapaz, não entendo muito bem a diferença. Não vejo mal nenhum que o BE, enquanto partido POLÍTICO (e acho que às vezes nos esquecemos da política) faça uma análise ao conteúdo ideológico das telenovelas. Que eu saiba, não apresentou nenhum projecto lei para regular conteúdos, pois não? Cuidado, portanto, quando tentas limitar a liberdade de expressão da classe política. 🙂 A tua visão é romântica, no mínimo, meu bom rapaz. À excepção dos seguros de saúde, quase todos os outros prosperam porque são obrigatórios, ou exigidos por lei ou exigidos por entidades emprestadoras. Mas, no que toca ao princípio de base: não, não entendo a diferença entre abdicar de algumas liberdades individuais em favor de um “Estado racional” ou abdicar da liberdade de gerir o meu tempo para a entregar a uma empresa privada que me empregue… Francamente não vejo.

  2. “O paradoxo é que às vezes quanto mais convencidas estão de serem boas pessoas e estarem do lado do bem, mais perigosas se tornam.” Beatas, por exemplo. A minha avó era comerciante de bens não essenciais e sempre votou PSD mas jurava a pés juntos que durante os governos PS é que as pessoas tinham mais dinheiro para gastar. Se isso se devia a uma melhoria da economia e maior confiança dos consumidores ou a um excesso de estado social a distribuir guito, depende do ponto de vista. Às vezes as fanecas ficam com os olhos muito esbugalhados e salientes como os da Catarina Martins por causa da diferença de pressão quando saem da água.

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