Stone Roses. Oiço-os desde meados dos 90s. Se continuar esta tendência de os achar sempre melhores do que da última vez que ouvi, é possível que em 2020 sejam melhores que os Beatles.
Month: Novembro 2015
em casa da minha mãe há sempre várias camadas de cães a obervar-me

buffalo 66, a imagem
Há filmes cujos os “stills” são quase todos merecedores de serem fotos por si só. Neste campo, um dos objectos que acho mais curiosos é o Buffalo 66 porque mistura um relativo caos à Cassavetes no argumento, mas depois tem um rigor formal próximo de Kubrick. Tati, ou Hitchcock com orçamento mínimo.
Tudo em cada plano é meticuloso. O filme é todo a madeira, branco sujo, verde pastel e vermelho sangue, azuis diluídos. Até num grande plano da Cristina Ricci encontramos os tons dominantes do filme, nos lábios, nas pálpebras.
A atmosfera gerada acaba por ser o oposto do realismo de Cassavetes em que a envolvente orgânica reflectia o agumento e mais próximo de um universo Lynch, onírico, de subúrbio americano, retro, que acentua um lado ingénuo que o filme tem.
Tal como em Lynch existem sequências em que a iluminação deixa de ser realista e introduz a visão subjectiva de uma personagem ou um mundo de sonho, mergulhando tudo na penumbra menos a personagem.
O tom pastel e ‘envelhecido’ da imagem, o grão, a aparência low cost e do i yourself dá ao filme uma atmosfera retro dos anos 60. Foi mesmo filmado em 35mm num formato (reversal film stock) que já foi descontinuado há muito e que se caracterizava por ser muito instável e imprevisível.
O filme é de 1998. Se hoje é comum depois dos filtros do instagram ou dos sucessos do intragável Wes Anderson, na altura esta estética era extremamente fora. E envelheceu bem, talvez por ser genuinamente analógica.
O filme foi filmado em muito pouco tempo (23 dias) o que ainda faz sobressair mais a obsessão necessária para certos planos. Em geral o mundo é geométrico e regular. Isso cria um contraste com os corpos de Gallo e Ricci, como se ambos fossem desajustados ao mesmo, como dois animais vadios à solta. No still acima o corpo em movimento e na diagonal de Gallo em contraste com as linhas da pista de bowling e os pinos.
A postura corporal de ambos é “implodida” em quase todas as cenas, como se estivessem “apertados”.
As pernas de Ricci no plano acima, os braços em V de Gallo e Ricci.
Gallo em diagonal na cama rectangular.As roupas deles por outro lado estão amontoadas.
A banheira (obviamente com azulejos esverdeados), tons pastel, Gallo em posição fetal a atrofiar. Ele é excelente a atrofiar. Não encaixa na banheira. A cena deixa uma sensação desconfortável. Outra pessoa deslizaria e deixava-se ficar submersa.
Gallo tenta dormir num banco de jardim na neve. Vertical, horizontal. Só o corpo dele é uma coisa que não encaixa em lado nenhum e se torce toda ao frio contra uma superfície dura.
Mas um dos motivos pelos quais também acho filme lindo é pela Cristina Ricci. Tendo mesmo neste filme bastante peso a mais para os padrões de Hollywood, o cast foi perfeito. A cara redonda e expressiva, as formas voluptuosas, são o contraste perfeito quer para a atmosfera fria e geométrica do mundo do Buffalo 66 e mesmo para o próprio Gallo, anguloso, magro, pontiagudo, a começar pelas botas. Ricci é como uma ursinha de peluche, quente e fofinha. Uma ursinha muito, muito sexy.
uma nota final para o Tiago: atentai na ocultação de mãos em quase todos os planos em que poderiam perfeitamente ser visíveis 🙂
mãos
adoro isto.
A basic rule for hands is to make sure they are never both at the same level in the photograph. The space between the two hands creates an imaginary line. This line will be a diagonal one, which is much more interesting than a horizontal line. In general, you should show the profile of the hand. The palm or back of the hand is actually quite large and will demand too much attention—often drawing the viewer’s eye away from the model’s face or the product she is selling. Also, age tends to be more visible on the backs of the hands. Additionally, when you are working in awarm environment, the veins may protrude in anunappealing fashion. There are some exceptions, of course.(…) Keep the fingers together and in a slightly bent position. Spread fingers create too many lines for the viewer’s eyes to read. And don’t crop or hide those fingers, either. When this happens, the hand looks amputated,leaving the viewer to wonder whether or not the model actually has all her fingers. – posing techniques, Billy Pegram
a imagem
Se a imagem sempre foi importante desde os tempos em que esfregar sangue de mamute na cara e usar colares de dentes de crocodilo era fashion, com a era das redes sociais, explodiu.
Podia escrever um tratado sobre isso. Uma das coisas cruciais é o hiato que pode existir entre a imagem construída por fotos e a realidade. Toda gente pode parecer muito bonita e nem me refiro a aldrabice de photoshop. Basta uma filtragem de fotos, de ângulos e crops. Um mulher pode transformar-se radicalmente só com maquilhagem, roupa, penteado.
Como convivi com muitas actrizes habituei-me a ver mulheres em contextos perfeitamente banais como jantares no fim de um ensaio cansativo e depois comparar com trailers de filmes ou novelas ou fotografias de pros. E isso confirmou algo que já tinha em mim, a descoberta de belezas absurdas onde não parece haver nada de especial. Mulheres que sei que mediante luz assim e assado, maquilhagem coiso e filtros, dariam 10 a zero às consagradas nesse campeonato da beleza (o talento de representar bem, é toda outra coisa). E estão em todo lado. Algumas penso que descarrilam só por não ter noção disso, por ninguém lhes dizer.
A propósito, vi hoje uma mulher Felinini level num restaurante, A Palmeira, onde vou muita vez. Estava num almoço de homens de negócios, de fatos. Ela era a única mulher num grupo de cerca de 5 6 homens e fiquei um pouco perplexo por não detectar em nenhum dos homens um desnorte natural. Um deles era bem parecido e tinha nível para ela, observei-o, mas não detectei nele qualquer inquietude. Estavam a falar uns com os outros e a ver o Rui Santos na Sic Notícias a comentar lances do Benfica Sporting, enquanto que eu lutava para não a olhar demasiado fixamente. Foi apresentada a um deles, na mesa ao lado. Era portanto uma ocasião não rotineira. Ela estendeu a mão e cumprimentou com um passou bem e um sorriso. Não conhecia o restaurante porque perguntou onde era o WC, indicaram-no. Falou com o empregado de forma simpática. Procurou um sítio onde pendurar o casaco e fê-lo num cabide numa parede distante, o que revela um certo deprendimento prático. Não nos daríamos bem nisso. Era absurdamente bonita.
enriquecimento pessoal
Mal não faz. Sempre é melhor do que ler mais um sobre técnicas de pesca ou running. Estou genuinamente interessado.
«the photographer who understands the system will find it a very
useful tool when faced with a beginning model who just stands in
front of the camera like a deer caught in the headlights and says,
“What should I do?”»
<3
mau timing
A minha vida é uma sucessão de maus timings com dois ou três milagres pelo meio. A vida de toda gente é assim acho eu, mas as pessoas andam distraídas. Eu não. Tenho consciência do azar e da sorte e não fico supreendido com nada. Gosto de dias frios e com sol em Lisboa. Gosto de andar de bicicleta. Não sei o que estou a fazer. Já escrevi cartas muito bonitas. Às vezes parece que estou a arder e um dia apago-me. Às vezes acho que escrevo numa linguagem arcaica, um dialeto de uma tribo perdida numa ilha no atlântico, uma ilha em forma de coração com árvores com flores rosa, super pirosa vista pelo google earth. Povoada de cães e gatos órfãos e cujas fotos em crias circulam pelo facebook desde 2010 e que ninguém quis. Escrevemos cartas que vão para dentro de uma garrafa e atiramos para o mar. Já por mais de uma vez dei um beijo a um fantasma. Gosto das pestanas daquela. E dos dentes de coelhinho daquela. Da franja daquela. Destas, são os olhos enormes, de loucas. O estranho é sentir-me feliz, querer tudo e não querer nada, deixem-me em paz. Estou de ressaca há dias. Sem uma noite de sono decente. Gosto de cozinhar. De estar na cozinha, a preparar o jantar, a frigideira crepitar, o vapor a subir da panela. E de a ouvir cantar na sala, a rodopiar no meio dos legos. Parece que vamos levantar voo os dois, para sempre.
olive oil makers
Estar uns dias sem a filha, especialmente depois de estar muitos dias com ela, faz-me sentir de forma particularmente acesa a sorte que tive. Claro que por mim podia ter nascido um monstrengo que ia gostar dele à mesma. Ia preparado para ter um filho estúpido ou com mau feitio, feio e chato. Os filhos são tão diferentes como são as pessoas e sempre aceitei isso. Uma brincadeira que quase todos os futuros pais fazem é brincar a imaginar um filho que tem o pior dos dois, o feitio de um nisto, as orelhas do outro… Além disso pais que têm mais do que um notam diferenças, um é mais esperto, outro mais bonito, outro mais simpático etc.
Por exemplo, esta criatura é o filho de José Mourinho.
Manda fotos para as redes sociais com a camisola do Barcelona depois de derrotas por 4-0 do clube que pagou o salário ao pai durante anos. Há coisas que o dinheiro não compra. Talvez o problema seja Mourinho. Temos de nos interrogar sobre os motivos para um pai levar a filha com um decote daqueles à cerimónia da GQ, em vez da mulher por exemplo.
Não. É tudo errado. Errado.