A paixão à primeira vista não tem só a ver com vista, em grande parte é acreditar que nós somos o que aquela pessoa precisa e que todas as linhas narrativas do passado vinham em diagonal para se cruzarem no agora.
Há pessoas com mais ou menos propensão a esta emoção e noto mesmo que tenho alguns amigos que nunca deram por ela. Penso que é preciso ser propenso à imaginação e ter elementos para construir isso, como arte, histórias, filmes, ser o chamado “romântico”.
Uma paixão à primeira vista é como um problema cognitivo grave, um episódio de alucinação em que o destino está escrito. Eu manifesto alguma dificuldade em lidar com a evidência de que sou o único a ter a referida alucinação. Como tudo o que é muito importante é completamente fruto do acaso o meu papel numa ocasião dessas é organizar as peças de um puzzle que me deram.
Isto podia ser romântico, e é quando é visto de fora, ou cómico quando é contado a amigos ou recordado depois da miséria, ou quando é escrito, mas nas, felizmente muito raras, ocasiões em que senti estar perante a ‘beleza que faz doer’, entrei em modo diabo da Tasmânia e fui tudo menos eficaz. Na minha cabeça sou o Donald Draper meets Jonathn Richman com toques de JD Salinger, mas na realidade pareço um misto de Jim Carrey meets cão solto na praia depois de 2 horas num carro.
A força da minha alucinação pode ser tão grande que se torne colectiva, do género ela olhar para mim, ver o quão entusiasmado e optimista estou e querer experimentar um bocado da droga. Diria que no passado foi 50/50, umas vezes acerta-se, outras não.
No Japão quando eles estão constipados andam de metro com a máscara para não pegarem a gripe a outra pessoa. Lembrei-me disto. Próxima vez que me apaixonar vou usar uma no metro. Para além da checklist, criei outra regra de ouro, que feliz ou infelizmente ainda não tive de usar e que é imitá-la. Se ela disser “olá” eu fico-me pelo “olá” também. Se me disser “quero casar contigo” eu digo “claro que sim, quando?” Assim, tudo tem imensa lógica e a comunicação é perfeita. De outro modo parece aquela situação em que uma mulher está a entrar de água no mar, a molhar o pezinho, toda arrepiada, e nós vamos e fazemos uma bomba TCHUAAaAAAa ao lado dela e ela foge a correr para a toalha.
Lembro-me de um amigo meu ter tido uma fase de ataques de pânico e quantos mais tinha, mais profissional ficava naquilo. Já sabia dizer à mulher “estou a ter um ataque de pânico, socorro”. Não o impedia de pensar que ia morrer na mesma, mas não era tão assustador para a família porque já todos sabiam que não ia mesmo morrer.
As tantas já o metiam sozinho no taxi para o hospital, apesar dele sentir que ia morrer pelo caminho, sem a família. Mas nunca morria e às vezes ainda voltava no próprio dia como se não fosse nada, um bocado embaraçado.
Uma música de que eu gosto muito, mas que não tem qualquer relação com o post.
Tanta volta dás, tanta volta dás qu’inda hás-de ir parara à psicanálise… Qualquer dia apareces aqui com o Lacan debaixo do braço.
a analogia com o Jim Carrey é memorável 😀
Yep, been there. 🙂
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