Se a imagem sempre foi importante desde os tempos em que esfregar sangue de mamute na cara e usar colares de dentes de crocodilo era fashion, com a era das redes sociais, explodiu.
Podia escrever um tratado sobre isso. Uma das coisas cruciais é o hiato que pode existir entre a imagem construída por fotos e a realidade. Toda gente pode parecer muito bonita e nem me refiro a aldrabice de photoshop. Basta uma filtragem de fotos, de ângulos e crops. Um mulher pode transformar-se radicalmente só com maquilhagem, roupa, penteado.
Como convivi com muitas actrizes habituei-me a ver mulheres em contextos perfeitamente banais como jantares no fim de um ensaio cansativo e depois comparar com trailers de filmes ou novelas ou fotografias de pros. E isso confirmou algo que já tinha em mim, a descoberta de belezas absurdas onde não parece haver nada de especial. Mulheres que sei que mediante luz assim e assado, maquilhagem coiso e filtros, dariam 10 a zero às consagradas nesse campeonato da beleza (o talento de representar bem, é toda outra coisa). E estão em todo lado. Algumas penso que descarrilam só por não ter noção disso, por ninguém lhes dizer.
A propósito, vi hoje uma mulher Felinini level num restaurante, A Palmeira, onde vou muita vez. Estava num almoço de homens de negócios, de fatos. Ela era a única mulher num grupo de cerca de 5 6 homens e fiquei um pouco perplexo por não detectar em nenhum dos homens um desnorte natural. Um deles era bem parecido e tinha nível para ela, observei-o, mas não detectei nele qualquer inquietude. Estavam a falar uns com os outros e a ver o Rui Santos na Sic Notícias a comentar lances do Benfica Sporting, enquanto que eu lutava para não a olhar demasiado fixamente. Foi apresentada a um deles, na mesa ao lado. Era portanto uma ocasião não rotineira. Ela estendeu a mão e cumprimentou com um passou bem e um sorriso. Não conhecia o restaurante porque perguntou onde era o WC, indicaram-no. Falou com o empregado de forma simpática. Procurou um sítio onde pendurar o casaco e fê-lo num cabide numa parede distante, o que revela um certo deprendimento prático. Não nos daríamos bem nisso. Era absurdamente bonita.
Já existem vários tratados sobre isso. Recomendo-te um: http://www.edicoes70.pt/site/node/623
“Algumas penso que descarrilam só por não ter noção disso, por ninguém lhes dizer.” Descarrilam?
está correcto, podia ser um typo, fui confirmar 🙂 As duas formas (descarrilhar, descarrilar) estão corretas e existem na língua portuguesa, curiosamente o spellcheck assinala o descarrilhar como errado. .. era isso?
Não estava a questionar a forma mas sim a ideia. Não percebi o que queres dizer com o descarrilam. Ou então percebi e estás a ser foleiro.