Ando com dificuldades em perceber um fim na fotografia, não por nada me interessar, mas pelo oposto, a profusão de ideias e hipóteses criativas paralelas. Sinto isso sempre que ando a vasculhar sites para alojar as fotos, nenhum parece feito à medida para todas as hipóteses que existem ou podem existir.
Mas há coisas que já percebi: a fotografia é um catalisador extraordinário de experiências e uma chave que abre portas trancadas. O fim é relevante para justificar o método. Um fim legítimo. Por exemplo, há um projecto interessante que é o Um Estranho Por dia (https://www.facebook.com/umestranhopordia/) de um conjunto de fotógrafos. Com esse projecto eles abordam estranhos e num exercício fotografam-nos e apresentam-nos com texto. No fim sobra uma foto e um texto, mas para o fotógrafo o exercício muito mais interessante foi ter conhecido aquela pessoa de um conjunto de anónimos possíveis. E para quem vê as fotos também passa uma reflexão sobre as nossas paranóias ou medos face ao estranho e desconhecido.
Quando olho para a minha máquina vejo que ela me pode levar a praticamente todo o lado. Desde miúdo que imagino o que será uma noite de faina num barco de pesca. Agora vou poder fotografar isso, se tiver como projecto uma série de fotos alusivas a Peniche ou a pesca, como planeio fazer. Mas o ganho não é tanto a foto em si, mas sim o ir abaixo da superfície dos locais que me rodeiam. Também entra aí a foto de surf que quero iniciar já este ano e tentar rentabilizar um pouco o equipamento. Curiosamente, em apenas 2 dias a andar com a máquina fui abordado já por 3 estranhos (2 estranhas e 1 estranho) para os fotografar, com os respectivos telemóveis o que nunca aconteceu em meses com a omd-em5. Se tivesse website tinha-os fotografado com a minha máquina e enviado as fotos. Acho que algo como um canhão com uma lente imponente passa a imagem instantanea de “hey, eu sou fotógrafo, por isso podem abordar-me”.
Outra coisa que percebi é poder imediatamente oferecer algo. A escrita é quase sempre um processo de dissecação violento (para ser interessante) e só me trouxe problemas com pessoas próximas. A única vez que escrevi uma espécie de carta de amor com 240 páginas, nem sequer resultou e deu-me muito trabalho e um princípio de alcoolismo. Ou então abstracto como um poema. Ninguém quer saber de um poema que escreva para a minha filha. E o que diria? Repetia “gosto tanto de ti” 20x? 50x? Já fotografá-la cria um objecto que posso partilhar com ela (ela gosta) e com toda a família que me pede as mesmas para imprimirem e emoldurarem. Vou a casa das avós dela e vejo fotos que fui eu que tirei, nas prateleiras. Posso fotografar os meus amigos e amigas e esforçar-me para que fiquem bem. Posso imprimir as minhas próprias fotos e encher paredes vazias em casa. Posso fazer o que me apetecer.
Por falar nisso, sugestões agradecem-se 🙂