censura

Acho que o Rui Sinel de Cordes tem razão na reflexão sobre a censura das massas estúpidas no facebook, não tanto sobre a mediatização do cancro ser um problema (não é, pelo contrário). Já me tocou, por exemplo, posts irónicos que são interpretados à letra por pessoas descontextualizadas ou então simplesmente com pouca habituação a isso da ironia. No facebook como há carradas de censura de massas, denúncia de posts, imagens etc. os tipos não brincam em serviço e os patrulheiros da moral não hesitam em coordenar ataques.

Contudo, ao permitir esse tipo de censura das massas (estúpidas, porque precisamente são as pessoas estúpidas que intimidam, ameaçam, denunciam) o facebook corre o risco de se esvaziar enquanto plataforma social interessante e remeter-se a um reino do feelgood social e neutro. E abrir assim as portas a uma rede social mais liberal.

mais 3

Lamento que a intervenção no Cais do Sodré não tenha contemplado pavimentos decentes para bicicletas, cadeiras de rodas e carrinhos de bebé e tenham optado pelo empedrado que é hiper ruidoso nas rodas dos carros do intenso trânsito. Contudo, a praia fluvial em degraus foi uma ideia que transformou esta frente para algo melhor. Vejo resmas de turistas que desistem de “turistar” e optam antes por ficar por ali inertes
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A meio do treino / fotosafari, tirei esta ao Oceanário, do arquitecto Peter Chermayeff, especialista em exposições e aquários. Não é só o edifício em si de que gosto: são os sons misteriosos de aves marinhas que emite pelos altifalantes na rampa de acesso que criam a atmosfera e aumentam o suspense, obrigando o visitante a fazer um ajuste mental como no cinema quando as luzes apagam (lá dentro a escuridão é total fora dos aquários). Gosto também de olhar para ele e saber que contém lá dentro um bocadinho de oceano, concentrado. É um pedaço da Expo 98 que se mantém actual. Da última vez que cá vim (o ano passado) nem me consegui mexer com a multidão. Por perto está o Pavilhão Atlântico, um edifício bonito por fora, mas que ficou certamente entregue a pessoas que percebiam zero de acústica e desenhou uma sala muito boa para aquelas merdas no gelo ou o show de luz e cor da expo, mas que para concertos (e vi lá pelo menos 5) é miserável

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Tempo ainda para umas experiências aqui. Sinto saudades terríveis de uma 20 – 24mm. Voltarei ao oceanário e aqui.

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Fiquei contente com os resultados da nikon 750d, com a olympus micro 4/3 o nível de ruído em fotos com baixa luz era elevado, mesmo com o iso a 200. Aqui o preto é preto, não preciso de mexer em “noise reduction” quando uso tripé, a nitidez é total.

 

já agora

a galeria do pequeno passeio antisocial hoje, completa.

 

Há coisas que gosto no uso de uma DSLR e outras que me estão a exigir adaptação. Gosto do visor óptico, de ver “a realidade” sem ser por um ecrã de lcd. Contudo não estou a ver a foto tal como vai ficar em tempo real e eu antes com a omd regulava imediatamente a exposição, via um histograma, tinha as linhas guias, o nível… Há um modo live view que é praticamente igual ao sistema de uma micro 4/3 e também posso “costumizar” o que vejo no outro modo, mas por outro lado, há algo positivo, esse lag entre a realidade que se capta e a representação, neste caso digital, remete para uma forma de trabalho mais intuitiva em que só nos preocupamos com enquadramento e foco, preparando previamente abertura, Iso, tempo de exposição etc. para as condições de luz e o tipo de tema, em vez de estar a mexer nessas coisas durante a captura. Outra dificuldade é a habituação ao formato 3:2 vs o formato 4:3 que usava, tanto que depois às vezes faço crops 4:3 de fotos que fiz a 3:2. Uma coisa que adoro é o som do disparador, mas uma coisa que não gosto muito é o estrondo que faz, não dá para estar em stealth mode perto de pessoas.

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Foto original, em ficheiro RAW, sem qualquer retoque, nem sequer o conversor de jpg da máquina, só o sensor puro.

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Depois 4 experiências rápidas no lightroom, esforcei-me mesmo assim por evitar coisas extremas.

 

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A última é mesmo preto e branco. Destas 5, qual preferiam e porquê? Eu tenho a minha.

o fim e o método

Ando com dificuldades em perceber um fim na fotografia, não por nada me interessar, mas pelo oposto, a profusão de ideias e hipóteses criativas paralelas. Sinto isso sempre que ando a vasculhar sites para alojar as fotos, nenhum parece feito à medida para todas as hipóteses que existem ou podem existir.

Mas há coisas que já percebi: a fotografia é um catalisador extraordinário de experiências e uma chave que abre portas trancadas. O fim é relevante para justificar o método. Um fim legítimo. Por exemplo, há um projecto interessante que é o Um Estranho Por dia (https://www.facebook.com/umestranhopordia/) de um conjunto de fotógrafos. Com esse projecto eles abordam estranhos e num exercício fotografam-nos e apresentam-nos com texto. No fim sobra uma foto e um texto, mas para o fotógrafo o exercício muito mais interessante foi ter conhecido aquela pessoa de um conjunto de anónimos possíveis. E para quem vê as fotos também passa uma reflexão sobre as nossas paranóias ou medos face ao estranho e desconhecido.

Quando olho para a minha máquina vejo que ela me pode levar a praticamente todo o lado. Desde miúdo que imagino o que será uma noite de faina num barco de pesca. Agora vou poder fotografar isso, se tiver como projecto uma série de fotos alusivas a Peniche ou a pesca, como planeio fazer.  Mas o ganho não é tanto a foto em si, mas sim o ir abaixo da superfície dos locais que me rodeiam.  Também entra aí a foto de surf que quero iniciar já este ano e tentar rentabilizar um pouco o equipamento. Curiosamente, em apenas 2 dias a andar com a máquina fui abordado já por 3 estranhos (2 estranhas e 1 estranho) para os fotografar, com os respectivos telemóveis o que nunca aconteceu em meses com a omd-em5. Se tivesse website tinha-os fotografado com a minha máquina e enviado as fotos. Acho que algo como um canhão com uma lente imponente passa a imagem instantanea de “hey, eu sou fotógrafo, por isso podem abordar-me”.

Outra coisa que percebi é poder imediatamente oferecer algo. A escrita é quase sempre um processo de dissecação violento (para ser interessante) e só me trouxe problemas com pessoas próximas. A única vez que escrevi uma espécie de carta de amor com 240 páginas, nem sequer resultou e deu-me muito trabalho e um princípio de alcoolismo. Ou então abstracto como um poema. Ninguém quer saber de um poema que escreva para a minha filha. E o que diria? Repetia “gosto tanto de ti” 20x? 50x? Já fotografá-la cria um objecto que posso partilhar com ela (ela gosta) e com toda a família que me pede as mesmas para imprimirem e emoldurarem. Vou a casa das avós dela e vejo fotos que fui eu que tirei, nas prateleiras. Posso fotografar os meus amigos e amigas e esforçar-me para que fiquem bem. Posso imprimir as minhas próprias fotos e encher paredes vazias em casa. Posso fazer o que me apetecer.

Por falar nisso, sugestões agradecem-se 🙂

composição

Composition is when your girlfriend comes over and straightens up all your magazines, cameras, half disassembled motorcycle engines, shoes, books, dirty socks and sporting goods that you left all over the house.

All this junk makes perfect sense to you or me, but it makes no sense to the woman or anyone else who comes over. You or I know exactly why and where everything is, but it makes no sense to anyone else. The woman needs to organize it so she can understand it and so it looks pretty to her.

This is composition, and most men hate it. I know I sure do. That’s why our photos usually suck.

Like a dirty room, your photos always make sense to you, but they won’t make sense to anyone else unless you clean them up first.

A photo needs to make sense instantly to anyone who looks at it.

Ken Rockwell sobre composição na fotografia.