«Muitos alentejanos preferem a morte física à morte social. Deste modo, a par da viuvez, o divórcio ou a ameaça de divórcio é a grande causa cultural do suicídio dos homens alentejanos.»
Texto extraordinário , primeiro capítulo do livro de Henrique Raposo, publicado no observador.
Também já tinha lido o texto, porque é uma especificidade local que sempre me interessou. Pior: reconheço no meu pai (alentejano) algumas das características que o autor menciona. É algo intrinsecamente cultural e masculino, presente em muitos diálogos familiares, como ele próprio refere. Check também para o machismo alimentado em tabernas e que não é sequer assumido ou ostensivo, a não ser entre os pares, mas que faz com que estes homens encarem as mulheres como sua propriedade. As coisas mudam – vejo isso na mentalidade do meu pai, por exemplo – mas há aqui algo que se mantém: esta co-dependência da mulher que, no entanto, é desvalorizada como o elo fraco, embora nunca o seja. Na ausência da mulher, estes homens preferem não viver. Enfim, é um tema que dava pano para mangas e que até me faz ter vontade de ler esta obra do Raposo, com quem geralmente discordo. Mas isso também não é pertinente para esta questão.