Depois de uma análise mais cuidada ao meu – até agora – total desinteresse face ao Benfica 2013/2014, concluo que parte deriva de me ter sentido fortemente contrariado pela permanência de Jorge Jesus no comando da equipa, um amuo que, se Deus quiser, irá dissolver-se e levar à minha reconciliação com o ser adepto, jogo a após jogo. Intuitivamente (eu sou muito intuitivo) sei que foi uma má decisão e escrevi-o na altura, mas não significa que esteja tudo perdido.
A leitura do Running by Feel de Matt Fitzgerald conseguiu dar-me algumas capacidades de estruturar melhor a intuição subconsciente em argumentos mais ou menos racionais. O conceito do livro é inspirado na experiência de corredores de elite e baseia-se na importância da confiança subconsciente que o corpo adquire com o treino. Recomenda orientar os treinos para a construção dessa confiança. Mais importantes do que as alterações fisiológicas, são as alterações mentais, uma vez que as sensações de cansaço e extenuação são bastante subjectivas dentro de generosos limites fisiológicos. O cérebro do atleta é capaz de calcular os ritmos adequados e de transmitir confiança subconsciente a si próprio. Os treinos, mais do que indutores de alterações físicas (mais músculos, elasticidade, técnica etc) servem de boost de confiança.
Perguntaram a um dos maiores especialistas de ciência desportiva vivos o que é que ele faria se o seu filho quisesse vencer uma maratona olímpica. O senhor respondeu: “arranjava-lhe um treinador que acreditasse que ele conseguia vencer uma maratona olímpica”. Os treinos funcionam como provas e o papel do treinador é orientar os treinos para construir essa confiança e, muito importante, para evitar danos na confiança. Os adeptos que chegaram até aqui neste texto, já devem ter percebido a ligação com Jorge Jesus. Mas antes disso, apresento um senhor.
Este senhor é corredor Haile Gebrselassie, da Etiópia.
Ele gosta muito de correr. E sorri muito. A alegria é fundamental. Eu adorava ver Jorge Jesus sorrir antes de um Porto Benfica, por exemplo. Adorava ver jogadores alegres. Todos os atletas de elite adoram o que fazem. Será que os atletas orientados por Jorge Jesus adoram os momentos decisivos? Ou os jogos com o Futebol Clube do Porto? Isto não é um detalhe, mas sim algo basilar num treinador.
Li e ouvi várias críticas à gestão física dos jogadores do Benfica: jogavam demasiado forte em várias frentes durante a época, não rodavam que chegue e que chegavam à fase final todos estoirados ou ao final dos jogos todos estoirados (ex: final da Liga Europa). Li críticas às opções tácticas. Tudo indica que isso não será o essencial. O estoiro não é fisiológico, mas sim mental. O facto de ocorrer perto das fases decisivas, seja da época, seja do próprio fim do jogo, é indicador que os treinos de Jorge Jesus não introduzem confiança ou alegria nestas fases. É indicador que mesmo no Benfica há um problema estrutural que começa no presidente. Eu não assisto aos treinos, nem os conseguiria avaliar. Mas consigo ver as comunicações, as flahs interviews, as respostas do Presidente, treinador e jogadores. Em vez de gerar alegria e confiança, tudo parece ir no sentido de aumentar ainda mais a pressão e aplacar adeptos. Não vou fazer o filme da época passada. Disse que nem tudo estava perdido. Para isso, era preciso recuperar a alegria e espontaneidade que, curiosamente, marcou a primeira época de Jesus: a época do rolo compressor em que – para provar o meu ponto – ele era um treinador bem menos experiente do que agora. Resta saber se a experiência desastrosa da época passada aumentou a confiança dele e dos jogadores. Falo por mim, mas acho que a dos adeptos saiu fragilizada. O arranque da época vai ser fundamental.
A nível de livros de corrida e superação de limites, este também é muito interessante – http://www.amazon.com/Born-Run-Hidden-Superathletes-Greatest/dp/0307279189
Obrigado, vou registar!
Isto fez-me lembrar o principal defeito que o rapaz d’O Jogo Directo sempre apontou `as equipas de Jesus (inclusivamente a do rolo compressor): a completa ausencia de controlo emocional da equipa. Alias, acho que isso foi especialmente visivel nessa primeira epoca, se as coisas corriam bem era praticamente um “muda aos cinco, acaba aos dez”, mas se aquilo nao engatava logo de inicio ficava tudo muito complicado…