Surpreendentemente, e apesar de não estar a trabalhar, tenho tido pouco tempo para escrever, desde que nasceu a minha filha. Talvez “tempo” seja um termo pouco adequado. Às vezes tenho tempo que suponho que seja o que algumas pessoas designam por livre. Por exemplo, estou em frente à televisão cerca de meia hora. A certa altura apercebo-me que a televisão está desligada e que estive a olhar para a Júlia a dormir imóvel. Quando vou para ligar a televisão, acabou o intervalo, ela acorda. Já experimentei escrever com a Júlia em cima de mim, todo refastelado na cadeira, para ela poder estar a 30º de inclinação e dormir, mas não é prático. Custa-me ir buscar mais uma cerveja ao frigorífico e acordá-la. Além disso, o sono dela, entremeado por ressonadelas de bacorito, soa-me a desrespeito pela arte que se desenrola mais ou menos na direcção para onde tem o rabo apontado. É como se ela não quisesse saber dessas coisas e nesses momentos eu me resumisse a uma superfície relativamente quente e fofa que respira com o ritmo certo e que a embala. Aconteceu-me eu ler-lhe um parágrafo meu e ela cagar-se toda, sonoramente. Li na net que no caso dos bebés pode ser considerado uma crítica positiva, mas enfim, os meus sentimentos não acharam o mesmo… Toda a minha faceta intelectual se torna irrelevante, digamos assim.
Eu até podia ter ter calma e encarar isto como uma “fase” de não escrita e teria certamente a desculpa de ser pai pela primeira vez, um acontecimento marcante e que já previa que me fosse abalar. Entretanto, estou a correr 5 dias por semana, a treinar para uma meia-maratona. Não sei o que se passa.
Já tentei escrever uma boa dúzia de posts e ficam sempre na gaveta porque não consigo acabá-los de forma satisfatória, como se não soubesse bem o que dizer. Este, para sobreviver, acaba assim.
Na altura dei-te a dica no Tolan, esquece os blogs. Ser pai de um bicho filho cauteriza a alma mais incandescente. Repara, esta parábola não faz sentido.
E é um santo post do caraças. (No teu caso) é como andar de bicicleta. Vale mais que a visita. O resto é o tempo. Abraço