bicicletas e passadeiras

Uma regra que pelos vistos alguns automobilistas de Lisba sabem e gostam de demonstrar que sabem apitando e esbracejando: as passadeiras não são para as bicicletas. Nem que o ciclista esteja parado à espera que os carros parem ou por ele ou por outros peões e nunca se atire para a frente assumindo que o carro vá parar. Nem que o ciclista não  tenha causado o mínimo de incómodo, susto ou contrariedade. Nem que o ciclista faça contacto visual e agradeça sempre a cortesia e a felicidade que é haver muitos condutores que não sofrem  de retenção anal e numa situação assim não exijam que o ciclista desmonte, visto que todos já pararam e todos percebemos o conceito de passadeira, as relações de hierarquia de massa de cada veículo, o que está em causa e para que serve, quem deu licença a quem, quem se partia todo em caso de choque etc. Embirrar com uma bicicleta que passa numa passadeira nestas circunstâncias, em que está parado à espera de passar ou não causou qualquer incómodo, está ao mesmo nível que embirrar com um peão que atravesse no sinal vermelho para peões numa rua em que não vem carro nenhum ou embirrar com um condutor porque parou em 2ª fila 30 segundos para deixar uma pessoa sair do carro ou embirrar com a mota que vai no meio de duas faixas num engarrafamento. No dia a dia temos dezenas de interacções de tolerância e racionalidade, civismo, educação. É nítido para mim nesta hostilidade de alguns condutores que o problema de raiz mesmo é ainda falta de hábito perante uma realidade que lhes é ainda desconhecida e a construção de um preconceito que os torna hiper atentos a um fenómeno em particular, mesmo que durante o dia lidem com muito mais infracções ou incómodos vindos de outras fontes. Hoje são uma dúzia de bicicletas. Há 10 anos se vissem uma no trajecto, era uma sorte. Se daqui a uns tempos forem 100 bicicletas em vez de uma dúzia, lá se vão habituar.

Entretanto, poucos minutos depois de mais uma demonstração de didatismo rodoviário de um condutor com retenção anal e que vinha com muita, muita, muita pressa e quase faleceu quando teve de parar para deixar passar um peão e deixar passar-me a mim ao mesmo tempo, vejo uma carrinha comercial na rua Ivens que continuou furiosamente em contra mão a rua quase toda, vindo do largo das belas artes (é de sentido único a meio). Em vez de virar no sentido obrigatório, continuou direito a mim, eventualmente assumindo que eu é que era o maluco do ciclista e que achava que a estrada era toda minha e as passadeiras também. Sei que numa situação destas os condutores da carrinha corriam perigo extremo de vida em caso de choque frontal, como correm nas passadeiras em caso de embate com um ciclista, por isso optei por deixá-los viver e desviei-me a tempo, porque do lado de lá, não houve a menor hesitação, nenhum sinal de dúvida, numa estrada com a largura de 1 carro e em que dos dois lados todas as viaturas estavam compactamente estacionadas na direccção oposta à que a carrinha seguia. Nada disto os deteve. Ainda me voltei para trás para tentar perceber se eu é que tinha falhado um sinal mas não. Um senhor transeunte ficou surpreendido pois ia com fones, de costas e não a viu aproximar-se. Lá está, o senhor transeunte estava a andar no meio da estrada, de fones, lá porque não era suposto vir carro nenhum naquele sentido e no outro também não vinha nenhunm a culpa era dele, em vez de andar no passeio, pôs os condutores da carrinha em risco de vida. Finalmente outro senhor fez sinais aos condutores e a carrinha parou, ainda hesitando se não continuava em contra-mão até à rua Garrett, em grande risco de vida.

2 thoughts on “bicicletas e passadeiras

  1. Quem embirra com os ciclistas, provavelmente, nunca andou de bicicleta como deve ser: E como anda toda a gente revoltada e porque estão dentro de um carro acham-se no direito de fazer 30 por uma linha e mandar bitaites e apitar.. essas coisas todas que descreves. Pior pior é quando o fazem na estrada e o ciclista se assusta.

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